A Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) confirmou nesta semana que a Igreja Católica não endossará candidatos políticos nas próximas eleições, apesar da recente alteração na legislação fiscal que permitiu às congregações fazerem tais apoios sem risco de perder seu status de isenção de impostos.
Mudança na legislação e posição da Igreja
Na última segunda-feira, o Serviço de Impostos Internos (IRS) assinou um acordo judicial que permite às igrejas e outros locais de adoração endossar candidatos políticos, revertendo uma proibição de 70 anos baseada na Emenda Johnson, que proíbe organizações sem fins lucrativos de participarem ativamente de campanhas eleitorais.
Contudo, o diretor de Assuntos Públicos da USCCB, Chieko Noguchi, reforçou que a Igreja continuará a não endossar candidatos, mesmo com a possibilidade legal. Ela declarou que essa decisão visa manter o foco da Igreja em orientar a formação da consciência dos fiéis, baseando-se no Evangelho.
“A Igreja busca ajudar os católicos a discernir, à luz do Evangelho, quais candidatos e políticas promovem o bem comum”, afirmou Noguchi. “Mantemos nossa posição de não endossar nem opor-se a candidatos políticos.”
Implicações para o clero e fiéis
Segundo Noguchi, se algum membro do clero decidir apoiar publicamente um candidato, essa questão deve ser tratada pelo bispo local, preservando a autonomia e autonomia episcopal na direção dessas ações.
Christopher Check, presidente do Catholic Answers, considerou a postura da USCCB “uma decisão sábia para os nossos tempos”. Ele destacou que “a Igreja não é uma organização política, mas a instituição divina que deve orientar as ações civis dentro dos princípios do Evangelho.”
Check também lembrou que essa posição está de acordo com o Código de Direito Canônico de 1983, que proíbe representantes do clero de participarem ativamente de partidos políticos, salvo em situações onde os direitos da Igreja estejam ameaçados ou o bem comum exija intervenção, sob a decisão da autoridade eclesiástica competente.
Diálogo e responsabilidade social
Especialistas e acadêmicos concordam que a Igreja deve focar seu papel pastoral na formação de consciência, especialmente diante da polarização política. A professora de história Susan Hanssen, da Universidade de Dallas, afirmou que a decisão do IRS é “prudente”, e que a postura da USCCB de não endossar candidatos também é sensata.
“A liberdade dada aos líderes religiosos pelo IRS é útil, mas a postura da Igreja de não endossar candidatos reforça sua orientação pastoral, não partidária”, explicou Hanssen. Ela ressalta ainda que a hierarquia e o clero podem ser claros ao se pronunciar sobre questões que envolvem ensinamentos da Igreja, como aborto, direitos dos pais, e casamento entre pessoas do mesmo sexo, promovendo o debate público sob uma perspectiva moral.
O advogado Ryan Tucker, da Alliance Defending Freedom, destacou que a mudança na legislação do IRS fortalece o direito constitucional das igrejas de falar livremente, sem medo de punições fiscais. “As igrejas sempre participaram de questões sociais que afetam seus fiéis e a sociedade, e essa decisão garante que possam continuar a exercer esse papel de forma mais livre.”
Perspectivas futuras
Analistas e líderes religiosos avaliam que a postura de manter a independência na política reforça a missão pastoral da Igreja, deixando claro que sua atuação deve estar voltada à formação moral dos fiéis e ao bem comum, sem entrar na disputa eleitoral direta.
A decisão também sinaliza que as comunidades religiosas continuarão a atuar como agentes de orientação ética e moral, promovendo o debate de temas relevantes, sem, contudo, fazer alianças partidárias ou apoiar candidaturas específicas.