Nesta quarta-feira (9), o ex-presidente Donald Trump enviou uma carta ao presidente Lula, na qual anuncia a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos e anuncia uma investigação oficial contra o Brasil por práticas comerciais consideradas prejudiciais aos interesses americanos.
Tarifas e retaliações comerciais contra o Brasil
No documento, Trump afirma que o governo americano, por meio do Representante de Comércio dos EUA, coordenará uma investigação sob a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. Ele acusa o Brasil de aplicar “medidas judiciais contra plataformas digitais americanas”, citando a suspensão do X pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes como exemplo. O texto também sugere que Washington pretende adotar sanções comerciais caso sejam constatadas práticas desleais.
“Além disso, devido aos contínuos ataques do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, estou ordenando ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, que inicie imediatamente uma investigação com base na Seção 301”, afirma a carta enviada a Lula.
Seção 301 e suas implicações
Esta seção da Lei de Comércio dos EUA é usada como instrumento de pressão econômica e retaliação, permitindo que o país imponha tarifas ou sanções a outros governos sempre que sejam identificadas práticas comerciais injustas. Os EUA já utilizaram esse dispositivo contra países como a China, citando apropriação de propriedade intelectual e subsídios considerados desleais.
Na comunicação, Trump também menciona que as ações brasileiras contra as empresas americanas, consideradas por ele como práticas comerciais injustas, justificam a abertura de uma investigação formal, que pode levar a tarifas adicionais ou outras medidas de retaliação.
Descompasso na balança comercial e interesses comerciais dos EUA
O ex-presidente destaca ainda que os EUA mantêm um relacionamento comercial diferenciado com o Brasil, apresentando um superávit na balança, com as exportações brasileiras aos americanos atingindo cerca de US$ 40 bilhões no ano passado, enquanto o valor importado foi semelhante. Em 2024, o fluxo comercial totalizou US$ 81 bilhões, com crescimento de 8,2% em relação ao ano anterior.
Trump reforça que seu governo estaria disposto a reconsiderar as tarifas e barreiras comerciais se o Brasil abrir seus mercados aos produtos americanos e eliminar barreiras tarifárias e não tarifárias. Segundo ele, “essas tarifas poderão ser modificadas — para cima ou para baixo — dependendo do relacionamento com o seu país”.
Relação comercial do Brasil com os EUA e outros parceiros
Diferentemente de outros grandes parceiros, como China e União Europeia, cuja relação comercial com o Brasil é mais focada em commodities, a parceria com os EUA é marcada por uma maior diversificação de produtos industrializados. De acordo com a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), 51 itens industriais representam cerca de 70% das exportações brasileiras para os EUA, incluindo aviões, máquinas e produtos químicos.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que, em abril deste ano, as exportações brasileiras para os EUA atingiram US$ 3,57 bilhões, uma alta de 21,9% em relação ao mesmo período de 2024, enquanto as importações somaram US$ 3,79 bilhões, crescimento de 14%. No entanto, exportações de aço e alumínio tiveram queda expressiva nesse mês devido a tarifas anteriores.
Contexto econômico e possíveis desdobramentos
Nos primeiros quatro meses do ano, o Brasil aumentou suas exportações para os EUA em 3,7% e as importações em 14,6%, indicando uma relação comercial ainda bastante significativa para o mercado brasileiro. Ainda assim, a carta de Trump evidencia um avanço de tensões e potencial de ações tarifárias que podem afetar a relação bilateral no curto prazo.
Analistas avaliam que, embora as medidas de Trump ainda não tenham efeito imediato, elas sinalizam uma postura mais agressiva dos EUA na defesa de seus interesses comerciais, podendo provocar reações comerciais similares por parte do Brasil ou novos embates na relação bilateral.
Para leitura completa, acesse o site do Globo.