O Vaticano concedeu nesta terça-feira (9) o “nihil obstat” às manifestações de devoção mariana relacionadas às supostas aparições da Virgem Maria no monte Zvir, na Eslováquia, entre 1990 e 1995. A decisão, divulgada pelo Dicastery for the Doctrine of the Faith, autoriza a celebração pública, sem, contudo, reconhecer a autenticidade sobrenatural das aparições.
Autorização para culto público sem reconhecimento de milagres
A carta, assinada pelo prefeito do dicastério, cardeal Victor Manuel Fernández, foi enviada ao arcebispo de Prešov, Jonáš Jozef Maxim. O documento reforça o valor pastoral do fenômeno e permite que os fiéis se reúnam em oração na localidade de Litmanová, preservando a expressão de fé, mesmo sem um reconhecimento oficial de origem divina.
Segundo o texto, a decisão levou em conta “os muitos frutos espirituais” decorrentes da devoção, como as conversões e o fortalecimento da fé entre os peregrinos. “A Igreja reconhece a relevância pastoral de Litmanová, que continua sendo um espaço de evangelização e oração,” afirmou Fernández.
Fragmentos ambíguos e cuidado na divulgação
No entanto, a autoridade vaticana apontou que algumas mensagens atribuídas à Virgem apresentavam “ambiguidade ou formulações pouco claras”, como afirmações de condenação universal ou que “o pecado é a causa de todas as doenças”.
O documento esclarece que essas mensagens não serão publicadas e que, desde 2011, a comissão doutrinal responsável pela investigação do fenômeno entende que os visionários geralmente não ouvem palavras concretas, mas vivem experiências interiores que tentam interpretar, o que explica possíveis imprecisões.
O cardeal Fernández solicitou ao arcebispo de Prešov que publique uma compilação dessas mensagens, excluindo qualquer conteúdo que possa gerar confusão ou abalar a fé dos fiéis.
Impessoalidade e critérios no discernimento
O entendimento do Vaticano é que o “nihil obstat” não é uma confirmação de intervenção sobrenatural, mas sim uma autorização para que o culto prossiga de maneira segura e orientada. O foco é fortalecer a vivência espiritual dos fiéis, sem afirmar milagres, conforme novas normativas de discernimento publicadas em maio de 2024.
Desde então, o processo de avaliação é conduzido preferencialmente pelo dicastério central, evitando possíveis fraudes, e enfatizando que o objetivo é prevenir enganos e proteger a fé dos devotos.
Um santuário vivo e em expansão
Localizado a menos de três quilômetros do vilarejo de Litmanová, o monte Zvir atrai peregrinos, especialmente de rito bizantino, há décadas. Três crianças estiveram presentes nas aparições: Ivetka Korcáková, Katka Ceselková e Mitko Ceselka. Estes fenômenos transformaram o local em um espaço de oração contínua.
A decisão do Vaticano, respaldada pelas novas diretrizes, reconhece o valor pastoral do local e permite que o culto permaneça na esfera pública, reforçando seu papel como espaço de experiência de fé e esperança, mesmo sem a confirmação de eventos sobrenaturais.
Segundo especialistas, essa abordagem mais flexível visa valorizar a vivência religiosa genuína, ao mesmo tempo em que se evita a propagação de falsas expectativas. “Litmanová continuará sendo uma fonte de inspiração para os devotos, que buscam aprofundar sua relação com Cristo e Maria,” destacou o padre Robert Kováč, assessor espiritual local.
Perspectivas futuras
O Vaticano anunciou que, nos próximos meses, deverá ser publicada uma orientação mais detalhada sobre o procedimento de discernimento em casos semelhantes. A medida reforça o compromisso da Igreja com uma pastoral mais cuidadosa e transparente, especialmente diante de fenômenos que despertam grande devoção popular.
Assim, Litmanová permanece como um exemplo de como a Igreja busca equilibrar acolhida à fé popular e rigor na avaliação de fenômenos espirituais, seguindo as novas normas e garantindo a integridade do ensino cristão.
