O secretário de Comunicação do governo Rafael Fonteles resolveu abrir a boca — e quando o faz, o Piauí “treme”. Marcelo Nolleto, em um arroubo típico de quem acredita que o Twitter é extensão do Diário Oficial, resolveu anunciar ao mundo (ou ao que restou de seguidores fiéis ao petismo local) que Ciro Nogueira estaria prestes a “fugir” da disputa ao Senado. Talvez, na imaginação de Nolleto, uma fuga digna de filme de ação, provavelmente com passaporte diplomático para os Alpes suíços, onde o governador, aliás, parece passar mais tempo do que em Picos ou Parnaíba.
É cômico. Seria trágico, se não fosse grotesco.
Menos de 24 horas após a publicação de um escândalo matemático vexatório num dos contratos mais caros do governo – da telemedicina — assinado com um erro matemático tão grosseiro que envergonharia um aluno da 6ª série —, o porta-voz de Rafael resolve mudar de assunto. Um truque velho e ordinário: quando se está atolado até o pescoço, grite “olha ali!”. Nesse caso, gritou “Ciro vai desistir”.
Genial. Lamentável. Ineficiente.

O contrato, revelado pelo Metrópoles é um escárnio: multiplicações erradas, valores inflados em milhões e, pior, todos pagos com dinheiro do SUS — aquele fundo sagrado que deveria financiar ambulatórios, medicamentos e atenção básica em comunidades indígenas. Mas não, virou fonte para teleconsultas superfaturadas enquanto o povo morre nas filas do HUT.
E o matemático governador, tão rápido no gatilho para postar selfie em missão oficial na Bélgica, não consegue revisar uma multiplicação básica: 1,25 vezes 3 milhões e pouco de habitantes não dá 49 milhões, governador. Se o senhor errasse assim no vestibular, estaria vendendo cursinho em vez de vendendo o Piauí como vitrine internacional.
Marcelo Nolleto, talvez ofuscado pelas luzes da ribalta virtual, escolheu a hora errada para atacar. Jogou pedra em Ciro Nogueira, justo quando a vidraça de vidro fumê do Palácio de Karnak desabava em pleno colapso aritmético. Júlio Arcoverde respondeu com precisão cirúrgica: o governo está mais ocupado em tuitar do que em governar.
E talvez seja essa a tragédia silenciosa do Piauí atual: um governo que confunde marketing com política pública, publicidade com resultado, rede social com relatório de gestão. A impressão é que Rafael governa o Piauí como quem administra um perfil do LinkedIn: discursos prontos, fotos bem enquadradas, mas uma completa falta de substância.
Rafael, como Átila Lira em 1994, pode estar marchando alegremente rumo ao abismo — embalado por aliados bajuladores que o convenceram de que 2026 será um passeio. Só esqueceram de avisar que quem pisa em casca de banana maquiada de fake news pode escorregar de vez.
E quando o chão sumir, nem a Europa nem os contratos bilionários salvarão a reputação. Porque se um governo que se diz técnico erra na conta de padaria, o que mais está sendo maquiado nos porões de Karnak?
A história cobrará. E o eleitor, ah, o eleitor — este, sim, não foge da urna. E sabe somar indignação com voto.