O projeto de lei do novo Código Eleitoral, que será votado nesta quarta-feira (9) na Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, promete trazer transformações significativas na maneira como as pesquisas eleitorais são divulgadas no Brasil. A proposta, que ainda precisa ser aprovada pela Câmara dos Deputados após ajustes no Senado, tem gerado inquietação entre os institutos de pesquisa, que temem os impactos dessas medidas.
Novas regras para a divulgação de pesquisas eleitorais
O relatório do senador Marcelo Castro (MDB-PI), parte da base do governo Lula, estabelece que institutos que realizarem pesquisas para cargos majoritários – como presidente, governador, senador e prefeito – deverão divulgar, junto aos resultados atuais, o desempenho das últimas três pesquisas para o mesmo cargo realizadas na eleição anterior. Isso significa que, por exemplo, em 2026, todos os dados sobre a disputa presidencial devem ser acompanhados das porcentagens obtidas pelo atual presidente Lula em 2022 e as previsões das três últimas sondagens feitas naquela campanha.
Esse novo ponto de vista das pesquisas eleitorais busca garantir um maior distanciamento crítico do eleitor em relação aos dados apresentados, reduzindo a possível influência indevida nas intenções de voto. O senador ainda argumenta que essa medida irá garantir que a população tenha uma visão mais clara sobre a eficácia das pesquisas do passado e seu impacto nas eleições futuras.
Críticas e preocupações dos institutos de pesquisa
Entretanto, a proposta não é unânime e tem gerado preocupações significativas entre especialistas e instituições de pesquisa. Márcia Cavallari, diretora-executiva do Ipsos-Ipec, comentou que as pesquisas não devem ser interpretadas como previsões exatas e que seu papel principal é mostrar tendências e o desempenho dos candidatos. Para ela, a divulgação de dados tão variados e distantes das eleições poderia confundir o eleitor e criar uma narrativa errônea sobre a confiabilidade das pesquisas.
Murilo Hidalgo, diretor do Instituto Paraná Pesquisas, classifica a nova regra como “desproporcional”, levantando exemplos de eleições passadas, como a vitória do Astronauta Marcos Pontes pelo Senado em 2022, onde a maioria das pesquisas favorecia outro candidato. Essa situação evidencia que as intenções de voto podem mudar drasticamente em períodos curtos, o que levanta dúvidas sobre a real eficácia de exigir que três pesquisas anteriores sejam divulgadas.
A divergência entre intenção de voto e voto efetivo
Advogados e especialistas em pesquisa, como Natallia Lima, também criticam a proposta. Ela acredita que a criação de um “índice de confiabilidade” que compare resultados das urnas com as pesquisas é um erro, já que estas últimas medem a intenção de voto de um momento específico e não garantem que esses números se concretizarão nas urnas. Essas opiniões refletem a discordância entre a intenção de voto dos cidadãos e a realização de pesquisas, que podem ser influenciadas por diversos fatores.
A expectativa agora é como o Senado e, posteriormente, a Câmara dos Deputados irão lidar com esse projeto que, se aprovado, poderá mudar a dinâmica da divulgação de informações eleitorais no Brasil. Os institutos de pesquisa estão se mobilizando para encontrar formas de adaptar suas metodologias e garantir que suas pesquisas continuem a ser relevantes e confiáveis, mesmo com as novas exigências.
Um olhar para o futuro das eleições no Brasil
Além da discussão sobre as novas exigências na divulgação das pesquisas, o tema também abre margem para reflexão sobre a desconfiança que tem cercado os institutos de pesquisa nos últimos anos, especialmente dentro de um ambiente político polarizado. A ofensiva contra esses institutos, por parte de vários grupos políticos, pode refletir um descontentamento mais profundo sobre a validade e a metodologia das pesquisas. Assim, cabe ao eleitor, ao longo do tempo, discernir as informações que chegam até ele e as intenções que elas tentam mapear.
À medida que o Brasil se prepara para mais um ciclo eleitoral, a discussão sobre o novo Código Eleitoral e as implicações nas práticas de pesquisa se tornará cada vez mais relevante. As mudanças prometem não apenas impactar a forma como os dados são apresentados ao público, mas também a própria dinâmica do processo eleitoral, levantando questões sobre a ética e a responsabilidade dos institutos de pesquisa diante da sociedade.