A chegada da montadora chinesa BYD ao Brasil, com a montagem de veículos em sistemas SKD e CKD na fábrica de Camaçari, na Bahia, gerou debate entre as fabricantes já estabelecidas no país. A disputa envolve geração de empregos e o impacto da competição no mercado automotivo brasileiro, além de discussões sobre políticas de incentivo e proteção local.
Entenda os sistemas SKD e CKD e suas implicações na produção de veículos
O que são SKD e CKD?
Os sistemas SKD (Semi Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down) representam processos de montagem de veículos a partir de componentes importados. No sistema SKD, o carro chega pré-montado ou semi-pronto, com partes já pintadas e acabadas, e a montagem local consiste apenas na finalização do produto. Já o CKD envolve o envio de peças separadas para montagem, exigindo uma linha de produção mais sofisticada e possibilitando maior uso de componentes locais, como partes de estamparia.
Impacto na produção e empregos
As fabricantes tradicionais investem em processos mais complexos, com alta nacionalização e uso de cadeia de fornecedores local, o que gera empregos e fortalece a indústria. Elas obtêm uma nacionalização dos veículos que varia entre 65% e 90%, contribuindo para a geração de emprego e desenvolvimento econômico. Já o sistema SKD é considerado mais simples, com menor impacto na cadeia produtiva local.
Repercussões do anúncio da BYD na Bahia
A BYD solicitou ao governo redução de impostos sobre os kits SKD e CKD para importar menos em produtos semi-prontos e montar veículos no Brasil. A solicitação foi feita no primeiro semestre, pedindo redução de 5% para carros elétricos e de 10% para híbridos, frente às atuais taxas de 20% e 18%, respectivamente. A análise da Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) está em andamento.
Reação do setor automotivo e o embate político
Montadoras já instaladas no país argumentam que a redução de tarifas, além de gerar uma guerra de preços, pode prejudicar o avanço da cadeia de fornecimento brasileira. O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, destacou que as empresas já investiram R$ 180 bilhões sem pedir redução de tarifas, demonstrando que há possibilidade de expandir a produção sem benefícios adicionais.
Especialistas afirmam que a política de incentivos deve equilibrar a competitividade internacional com o fortalecimento da economia local. “Inicialmente, é comum que empresas utilizem SKD e CKD até estabelecer uma cadeia de fornecedores local compatível com o mercado brasileiro”, explica Milad Kalume Neto, especialista em indústria automotiva.
Perspectivas futuras e o papel da cadeia nacional
Embora o uso de SKD e CKD seja uma prática comum na fase inicial de instalação de novas fábricas, a tendência é que, com aumento do volume de vendas, as montadoras invistam na produção local de componentes, elevando o índice de nacionalização dos veículos. As montadoras presentes no Brasil aproveitam a cadeia de fornecedores já consolidada, fornecendo entre 65% e 90% de peças locais, o que favorece a geração de empregos.
O setor de autopeças brasileiro faturou R$ 260 bilhões em 2024, empregando mais de 400 mil pessoas, o que demonstra sua importância estratégica para a manutenção do equilíbrio econômico no país. A discussão sobre a entrada da BYD e a redução de tarifas será decisiva para o futuro da indústria automotiva brasileira, especialmente na transição para veículos elétricos e híbridos.
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