Nos últimos eventos de corridas de rua, especialmente na Maratona do Rio, um fenômeno preocupante tem atraído a atenção dos organizadores e dos corredores: a incidência de atletas que passam mal durante as provas. Na Maratona do Rio, considerada a maior da América Latina, os atendimentos no hospital de campanha aumentaram em 40% comparado ao ano de 2024, evidenciando um alerta sobre a saúde dos participantes. Além disso, mortes ocorrendo durante corridas no Brasil, embora raras, destacam a urgência de uma discussão sobre a preparação física e os cuidados necessários para quem deseja participar dessas competições.
A saúde dos corredores e a necessidade de mudanças
Com o crescente boom das corridas de rua, questões sobre as condições de saúde dos corredores têm ganhado espaço nas discussões entre organizadores e atletas. Em junho desse ano, por exemplo, foram registradas duas mortes em um único final de semana, o que deixou um rastro de preocupação entre os entusiastas do esporte. Essa realidade trouxe à tona a necessidade de um controle mais rigoroso sobre a saúde dos participantes, bem como uma reflexão sobre práticas mais eficientes de acompanhamento médico e preparação física.
Thadeus Kassabian, diretor da Yescom, que organiza eventos como a Meia Maratona do Rio e a Maratona de São Paulo, anunciou novas medidas para intensificar a segurança dos corredores. A partir de agosto na Meia Maratona do Rio, os atletas receberão uma declaração de saúde por e-mail, onde deverão confirmar que estão aptos para a corrida e que não repassarão seus números de peito para terceiros. “Queremos um controle melhor e mais rigoroso, tanto para os atletas quanto para a organização”, ressalta Thadeus.
Medidas de segurança e responsabilidade nas corridas
Outra etapa planejada é que, em um momento posterior, os corredores deverão anexar uma declaração de saúde assinada por um médico durante a inscrição. Atualmente, ao se inscrever, os corredores apenas assinam um termo genérico de responsabilidade. O novo método tem o intuito de apresentar um controle mais efetivo sobre as condições de saúde dos participantes, principalmente considerando o histórico recente de mal súbito.
Os resultados da última edição da Maratona do Rio são alarmantes: apesar de um crescimento de 35% no número de corredores, o hospital de campanha registrou um aumento de atendimentos relacionados a problemas como hiponatremia, hipotermia, hipertermia e desidratação, embora não tenha havido mortes nessa edição específica. Este aumento leva à reflexão sobre a necessidade de um acompanhamento melhor e o incentivo a treinamento adequado por profissionais de saúde.
O papel da conscientização e da preparação
Claudio Romano, vice-presidente da Dream Factory, responsável por eventos como a Maratona do Rio, defende que é fundamental que os corredores tenham consciência sobre sua condição física antes de participar. Segundo ele, o cuidado com a saúde deve ser prioritário, especialmente considerando que muitos participantes vão para sua primeira prova sem estarem adequadamente preparados.
O cardiologista Luiz Ritt, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, reforça esse alerta, argumentando que é essencial que os atletas passem por um acompanhamento gradual e tenham treinamentos orientados. “A prática esportiva é um caminho poderoso para uma vida saudável, mas os benefícios são notados quando o atleta está bem preparado”, afirma Ritt.
Os dados sobre incidentes durante corridas
Estudos internacionais apontam que a taxa de mortalidade em corredores permanece estável, com aproximadamente um óbito a cada 100 mil participantes. Contudo, o aumento no número total de corredores se traduz em um maior número de incidentes. O que é tranquilizador, no entanto, é que muitos desses eventos ocorrem sem sintomas prévios, transformando a questão do mal súbito em uma preocupação coletiva.
Cuidado com a saúde: um dever de todos
Os especialistas concordam que a corrida deve ser abordada com seriedade, destacando a importância de um planejamento adequado, monitoramento da frequência cardíaca e hidratação apropriada durante as provas. Diretrizes como a criação de uma campanha de autocuidado, liderada por diversas organizações, buscam ampliar a conscientização sobre os cuidados necessários antes, durante e após as competições, promovendo um ambiente mais seguro para todos os corredores.
Concluindo, a maratona e os desafios em provas de longa distância refletem a paixão dos brasileiros pelo atletismo, mas também evidenciam a necessidade de medidas mais rigorosas para garantir a saúde e segurança dos participantes. O compromisso com a saúde deve ser uma prioridade, não apenas para os atletas, mas também para os organizadores e a sociedade em geral.
