A busca por soluções de inteligência artificial (IA) voltadas à acessibilidade tem movimentado investimentos e inovação no setor, com destaque para empresas brasileiras e internacionais. Dados apontam que o mercado global de software de acessibilidade digital, que movimentou US$ 721,1 milhões em 2023, deve atingir US$ 1,3 bilhão até 2030, crescendo a uma taxa média de 9,2% ao ano. No Brasil, onde 23,9% da população tem alguma deficiência, esse mercado representa entre 7% e 10% do cenário mundial, conforme dados do IBGE.
Avanços tecnológicos na acessibilidade com IA
Empresas estão investindo em ferramentas que combinam software e hardware para ampliar a inclusão de pessoas com deficiência física, auditiva ou intelectual. Uma dessas startups é a brasileira HandTalk, que desenvolve soluções de tradução automática de conteúdos para Língua de Sinais (Libras). A companhia investe em reconhecimento de movimentos e tecnologia de IA para facilitar a comunicação de surdos, com o objetivo de tornar a comunicação mais natural e humanizada.
Segundo Ronaldo Tenório, CEO da HandTalk, a ferramenta permite agora que uma pessoa surda sinalize em Libras e seja compreendida por voz ou texto, eliminando barreiras de comunicação. “Estamos investindo em reconhecimento de movimentos e um dicionário inteligente que facilita o entendimento de termos específicos, potencializando a inclusão digital”, afirma o executivo. A empresa já planeja ampliar sua atuação para países como Chile, Argentina, Peru e Colômbia, com uma captação de R$ 15 milhões prevista para 2026.
Inovação na interação com dispositivos móveis e computadores
Outra gigante nesse segmento é a Apple, que prepara lançamentos voltados à acessibilidade, como o “Braille Access”, que permitirá anotações em Braile em iPhone, iPad e Mac. A tecnologia incluirá a possibilidade de transcrever conversas em tempo real para Braile, além de recursos de leitura de conteúdo, ajuste de fontes, contraste e comandos de voz. Esses recursos usam aprendizado de máquina e inteligência artificial para tornar os dispositivos mais inclusivos.
Além disso, a Apple desenvolverá um modo de leitura personalizado chamado “Leitor de Acessibilidade” e a ferramenta “Lupa”, que permitirá ampliar imagens capturadas por câmeras, ajudando pessoas com dificuldades de visão a identificar objetos e detalhes em tempo real. Essas inovações visam criar uma experiência digital mais humanizada e acessível para todos, independentemente do tipo de limitação.
Aplicações de IA que mudam a vida e o mercado de trabalho
Startups brasileiras também estão na vanguarda, como a Audima, fundada em 2017, especializada em leitura de textos para pessoas com restrição de visão. Após a chegada de aplicativos como ChatGPT, a empresa precisou se reinventar, investindo em recursos como tradução em Libras, descrição automática de imagens e contrastes inteligentes. Para Luiz Pedroza, CEO da Audima, a demanda por soluções integradas que atendam às diversas necessidades de acessibilidade é crescente.
Pedroza explica que o objetivo atual é criar um “agente de acessibilidade” que possibilite a alteração de layouts por comandos de voz e texto, permitindo mudanças rápidas de tamanho, cor e leitura em voz alta. “As empresas querem soluções completas em um só ambiente, que atendam às necessidades específicas de seus clientes”, diz o executivo. Assim, a companhia planeja ampliar sua atuação internacionalmente, com investimentos em tecnologia de reconhecimento de movimentos para tradução reversa, ou seja, de sinais para áudio ou texto, ampliando a inclusão de surdos na comunicação digital.
Desafios e o futuro da acessibilidade com IA
Um grande desafio para o setor é criar vozes naturais em assistentes virtuais e sistemas de IA, capazes de oferecer uma comunicação mais humanizada. Pedroza destaca que “uma voz artificial robótica não traz a inclusão desejada; quanto mais realista for a voz, maior será o impacto na experiência do usuário”. Empresas de tecnologia também buscam oferecer recursos de leitura em Libras, legendas ao vivo e maior controle de contraste e comandos de voz, voltados tanto ao público comum quanto às necessidades específicas de pessoas com deficiência.
O crescimento dessas soluções não se limita ao Brasil. Segundo o estudo da Grand View Research, o mercado mundial de software de acessibilidade deve dobrar até 2030, impulsionado por uma maior conscientização e investimentos intensivos em IA. Por sua parte, empresas globais, como a Sorenson Communications, adquiriram startups como a brasileira HandTalk, ampliando seu alcance e integrando a tecnologia de tradução de linguagem de sinais a uma gama maior de soluções de inclusão.
Nos próximos anos, o avanço dessas tecnologias promete transformar o cenário da acessibilidade digital, promovendo uma inclusão mais plena e igualitária a partir do uso estratégico de inteligência artificial e inovação tecnológica.
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