O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, nesta semana, a importância do fim do uso de combustíveis fósseis e da promoção da igualdade de gênero na agenda do Brics, mesmo num bloco com países que possuem históricos de restrição aos direitos femininos, como Irã e Arábia Saudita. Em discurso na cúpula ampliada, Lula também abordou temas como racismo, desigualdades e o papel do Brasil na ONU, em um cenário de contradições internas no grupo.
Compromisso com a transição ecológica e os desafios internos
Ao enfatizar a necessidade de uma transição justa e planejada para energias renováveis, Lula alertou para a possibilidade de uma nova fronteira de exploração petrolífera na Amazônia, sob a influência de interesses ligados à Opep. “É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso dos combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento”, afirmou o presidente. O problema, segundo ele, é que ações do Brasil estão caminhando na direção contrária, com a abertura de novas áreas de exploração marítima de petróleo.
Declarações sobre direitos humanos e contradições do grupo
Apesar dos discursos sobre igualdade de gênero e combate ao racismo, Lula destacou as dificuldades crescentes em países como Irã e Arábia Saudita, onde os direitos femininos e humanos enfrentam restrições severas. No caso da violência contra mulheres, o Brasil se viu diante de mais uma tragédia: a morte de Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, por um policial na zona sul de São Paulo. Lula reforçou que “igualdade de gênero e o fim do racismo são urgências que precisam mais do que palavras”.
Política internacional e o papel do Brasil
Na declaração conjunta do Brics, apenas a China e Rússia reiteraram apoio às aspirações do Brasil e Índia de maior protagonismo na ONU, incluindo um assento no Conselho de Segurança. Sobre temas sensíveis como a guerra na Ucrânia, a declaração foi vazia, lembrando apenas posições já expressas em fóruns internacionais. Vladimir Putin, mesmo ausente, conseguiu que a Rússia não fosse condenada oficialmente pela invasão da Ucrânia, enquanto críticas a Israel também marcaram o encontro.
Desafios na defesa do meio ambiente e da paz mundial
O grupo reafirmou comprometimento com a realização da COP30, marcada para Belém, e destacou a importância de acelerar as contribuições nacionais previstas na agenda climática global. Porém, sua postura favorável à continuidade do uso de combustíveis fósseis revelou um viés conservador na política ambiental do grupo. “Reconhecemos que os combustíveis fósseis ainda têm um papel importante na matriz energética mundial”, sinalizou o documento oficial, evidenciando as contradições do bloco frente às demandas ambientais.
Perspectivas e limites do papel do Brics
Embora tenha conquistado apoio à realização da COP30, o Brics deixou claro que seus avanços na esfera internacional permanecem fraquezas no conteúdo de suas declarações. A tentativa do Brasil de ampliar sua influência na ONU e o discurso de apoio às aspirações nacionais foram considerados pouco concretos frente às contradições internas e às posições divergentes dos membros.
Para Lula, os próximos passos dependem do compromisso efetivo dos países do grupo. “Sem ações concretas de enfrentamento às desigualdades e mudanças sustentáveis, os avanços conquistados no passado correm risco de se perder”, avalia analistas políticos. O desafio do Brasil será equilibrar interesses econômicos com os compromissos ambientais e sociais que a própria fala do governo indica querer impulsionar.