No último domingo (6), durante a 17ª cúpula do Brics realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma crítica contundente ao papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Segundo ele, essas instituições atuam de forma similar a um “Plano Marshall às avessas”, onde as economias emergentes e em desenvolvimento acabam sustentando as mais desenvolvidas.
A cúpula teve como tema central o fortalecimento do multilateralismo, além de discutir assuntos econômicos e a inteligência artificial (IA). Lula destacou que as políticas do FMI e do Banco Mundial têm se voltado majoritariamente para as economias desenvolvidas, em detrimento das necessidades dos países mais pobres. “Os fluxos de ajuda internacional caíram, e o custo da dívida dos países mais pobres aumentou”, afirmou o presidente.
“As distorções são inegáveis”, comentou Lula, ressaltando que o peso econômico do Brics deveria ser reconhecido também na votação do FMI, onde os países do bloco detêm apenas 18% dos votos. “Para fazer jus ao nosso peso, o poder de voto deveria corresponder a pelo menos 25%”, acrescentou.
A importância do Novo Banco de Desenvolvimento
Na sua fala, o presidente também elogiou a atuação do Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank – NDB), mais conhecido como Banco do Brics. Ele destacou a recente adesão de países como Argélia, Colômbia, Uzbequistão e Peru, afirmando que isso demonstra a capacidade do banco em oferecer financiamento для uma transição justa e soberana.
O NDB, criado em 2015, tem promovido iniciativas que visam à equidade em investimentos e financiamentos. Sob a liderança da ex-presidente Dilma Rousseff, o banco copia uma abordagem inovadora em economias em desenvolvimento, procurando suprir lacunas que o FMI e o Banco Mundial frequentemente deixam.
Além disso, Lula abordou a questão da justiça tributária, enfatizando a necessidade de políticas que façam os mais ricos contribuírem proporcionalmente mais. Segundo ele, isso é fundamental para a construção de estratégias de crescimento mais inclusivas e sustentáveis.
Cenário comercial e proteção internacional
Lula também fez críticas à Organização Mundial do Comércio (OMC), apontando que a paralisia da organização e o recrudescimento do protecionismo têm gerado uma condição insustentável para os países em desenvolvimento. Ele ressaltou que a guerra comercial iniciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resultou na aplicação de tarifas que prejudicam a competitividade das economias emergentes.
Governança da inteligência artificial
Outro ponto importante abordado pelo presidente foi a adoção de uma declaração sobre a governança da inteligência artificial pelos países do Brics. Lula destacou a necessidade de um modelo de IA que seja justo e inclusivo, que não favoreça apenas uma minoria rica. “O desenvolvimento da inteligência artificial não pode se tornar um privilégio de poucos países”, afirmou.
Expansão e inclusão no Brics
Lula mencionou que, pela primeira vez, a cúpula do Brics conta com países-parceiros, uma inovação que aconteceu na reunião anterior na Rússia. Esses países, embora não tenham direito a voto, trazem perspectivas regionais diversificadas, enriquecendo o diálogo e a articulação do blocos.
“O Brics é um ator essencial na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, concluiu Lula.
Compreendendo o Brics
Formado por 11 países — África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia — o Brics representa cerca de 39% da economia mundial e 48,5% da população global. Os países-parceiros, como Belarus e Bolívia, se somam aos esforços do bloco em buscar mais cooperação e igualdade nas relações internacionais.
À medida que o Brasil assume a presidência do Brics, que será seguida pela Índia em 2026, há uma expectativa de que as questões de desigualdade e injustiça social continuem a ser abordadas nas próximas reuniões.