Ao se aproximar de seu 90º aniversário em 6 de julho, o 14º Dalai Lama ainda se destaca como um líder espiritual que oferece orientação humanitária a milhões em todos os continentes. Sua trajetória, marcada por momentos de crise e esperança, revela um compromisso contínuo com a compaixão e o entendimento entre culturas.
Uma vida dedicada à compaixão universal
Nascido na fazenda de um vilarejo remoto na Tarda, Tenzin Gyatso — nome de batismo do Dalai Lama — deixou sua terra natal após a invasão chinesa, mas conquistou o mundo com sua mensagem de paz. Como mencionado por Pico Iyer, ele já expressava, há décadas, que, mesmo com perdas, a renovação é uma possibilidade constante, seja após tragédias ou conflitos.
O líder tibetano costuma dizer que sua religião é “bondade”, e reforça que, em um mundo cada vez mais dividido, a empatia e o diálogo são os verdadeiros caminhos para a paz. Em várias ocasiões, ele afirmou que a ciência deve assumir a dianteira, sempre que suas descobertas contradizerem doutrinas religiosas, promovendo uma ética secular e universal.
Diálogo intercultural e ecumênico
O Dalai Lama é uma figura que transcende fronteiras religiosas e culturais. Segundo Pico Iyer, ele é capaz de falar sobre as cartas do Evangelho, enquanto se emociona ao explicar parábolas de Jesus, além de se posicionar como defensor do islamismo, consultor de rabinos e estudante de Índia, um país que hoje chama de casa há 66 anos. Essa postura de maior entendimento e respeito representa uma resposta a um mundo fragmentado por crenças conflitantes.
Mesmo sendo um líder religioso respeitado, ele associa a fé a algo que enriquece a vida, como uma xícara de chá, mas defende que a verdadeira essência para todos é a gentileza cotidiana e a responsabilidade social.
A visão realista de um líder sem poder temporário
Desde muito jovem, o líder tibetano demonstra uma compreensão estratégica da complexidade geopolítica, reconhecendo que fronteiras podem desaparecer com o tempo. Ele tem uma postura realista, valorizando a mudança e a estabilidade, ao mesmo tempo em que busca o diálogo com diversos povos e nações.
Ao longo de suas viagens, muitos chineses, classificados como Han, percorrem distâncias para ouvi-lo, demonstrando o impacto de sua mensagem de esperança e coragem. Como líderes sinceros, ele renunciou ao poder político em 2011, reforçando sua busca por uma liderança baseada na ética e no exemplo.
O legado de consciência global
Para os seguidores budistas, ele é uma das figuras mais importantes, promovendo a sustentabilidade e a interdependência. Para o restante do mundo, é uma personificação de consciência global, que aposta na ciência, na razão e na empatia para enfrentar crises ambientais e sociais.
Apesar de ser considerado por muitos como o último Dalai Lama, ele afirma que a mensagem de compaixão e diálogo deve permanecer, independentemente de sucessões políticas ou religiosas. Assim, sua jornada continua sendo uma inspiração para todos que buscam um mundo mais justo e humano.