Desde sua chegada ao poder há pouco mais de um ano, o mandato do primeiro-ministro britânico Keir Starmer tem sido marcado por dificuldades internas e uma crise de credibilidade, refletida na recente lágrima da ministra Rachel Reeves e nas controvérsias sobre o modelo de gestão adotado. A troca de posições e as reações negativas da população evidenciam que o governo ainda enfrenta obstáculos para consolidar sua agenda de mudança.
Um governo de análise e paradoxos na prática
Starmer assumiu a liderança em meio a uma população cansada de anos de austeridade, corrupção e escândalos políticos sob os conservadores. No entanto, o seu posicionamento tem sido caracterizado por uma postura ortodoxa e conservadora, focada na disciplina fiscal e na manutenção das instituições tradicionais, o que contrasta com a necessidade de renovação social no país.
O sucesso eleitoral de Starmer, conquistado com 64% dos assentos no parlamento, veio de uma insatisfação profunda com a gestão dos conservadores, dominada por crises financeiras, Brexit problemático e escândalos constantes. Ainda assim, sua vitória foi considerada por alguns uma “vitória sem mandato”, dado o baixo índice de participação e a falta de uma clara distinção ideológica entre as propostas da oposição e a antiga administração.
Desafios econômicos e políticos do mandato de Starmer
Restrições fiscais e reações da sociedade
O compromisso com a disciplina fiscal limitou o alcance de medidas sociais. Reeves, secretaria de Finanças, descartou aumentos de impostos, o que levou o governo a manter políticas de cortes, como o limite de benefícios para famílias e a retirada de subsídios essenciais para idosos. Essas ações geraram forte reação pública e também crises internas, como a recente recaída na proposta de reduzir benefícios para deficientes e doentes.
Starmer se comprometeu a reativar a economia através de maior credibilidade nos mercados e desregulação de setores estratégicos, com incentivos para investimentos privados em infraestrutura. Entretanto, o crescimento econômico tem se mostrado lento e os serviços públicos continuam sob pressão, levando muitos a questionar se essas estratégias realmente beneficiam a população.
Perspectivas de um cenário polarizado
O governo enfrenta um cenário de instabilidade, enquanto partidos de esquerda, incluindo antigos aliados como Jeremy Corbyn, buscam uma nova alternativa política. Ao mesmo tempo, o avanço de líderes de extrema-direita como Nigel Farage, com sua promessa de “Fazer a Grã-Bretanha Grande Novamente” e o controle rígido da imigração, reforça o clima de polarização e conflitos sociais, com episódios de violência e ataques racistas em diferentes regiões do país.
Pesquisas recentes indicam que o apoio ao Reform, partido liderado por Farage, atingiu 34%, projetando um futuro incerto para a atual administração, que deverá enfrentar não só desafios econômicos, mas também o crescimento de uma direita radical que ameaça sua estabilidade política a médio prazo.
Desafios a caminho
O primeiro ano de Starmer no poder revela uma administração presa entre suas promessas de estabilidade e a necessidade de adaptação às demandas populares por mudanças mais profundas. Com uma base de apoio fragilizada e uma oposição cada vez mais radicalizada, o caminho para consolidar um novo projeto de país permanece cheio de obstáculos.
O que se espera é que, nos próximos meses, o governo consiga alinhar suas políticas fiscais com as necessidades sociais do Reino Unido, enquanto enfrenta o desafio de recuperar a confiança da população e evitar que forças extremistas ganhem ainda mais espaço na cena política.