Brasil, 5 de julho de 2025
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África deve exigir justiça ecológica no G20, afirma P. António Cachingona

O sacerdote angolano pede que o continente tenha voz própria nas decisões globais sobre justiça e sustentabilidade.

O continente africano é frequentemente visto como um espectador nas discussões globais, mas essa realidade está mudando. O Padre António Pelágio Cachingona, Coordenador do Departamento Social da Associação Inter-Regional dos Bispos da África Austral (IMBISA), defende que a África deve exigir justiça ecológica e uma participação mais ativa no cenário internacional. Em uma entrevista à Vatican News, o sacerdote falou sobre o impacto do Simpósio Internacional do G20 sobre Justiça Global e Solidariedade, realizado em junho de 2025 na Cidade do Cabo, África do Sul.

A importância de ser ouvido

O P. Cachingona destaca que o tema abordado no simpósio é profundamente alinhado com os princípios da Doutrina Social da Igreja, que enfatiza a justiça, a solidariedade e a sustentabilidade. “Este simpósio se insere nos clamores do nosso tempo. A África precisa apresentar suas prioridades e deixar de ser apenas subordinada às decisões das potências mundiais”, afirmou.

Entre as várias mensagens rockadas no evento, uma das principais preocupações do padre é o pedido para o cancelamento da dívida ecológica. Ele enfatizou que, apesar de ser o continente que menos contribui para a degradação ambiental, África sofre desproporcionadamente os efeitos da crise climática. “Não é justo que a África pague por aquilo que em nada contribuiu. Os ciclones, as secas, e os desastres ambientais estão a destruir comunidades inteiras”, alertou.

Reparações históricas e voz ativa

O legado colonial e seu impacto negativo no desenvolvimento da África também foram abordados pelo sacerdote. Segundo ele, este é o momento de exigir reparações históricas e uma representação real e ativa nas discussões internacionais. Com a África do Sul na presidência do G20, Cachingona vê isso como uma oportunidade para o continente se afirmar como uma voz legítima nos debates globais.

A Declaração da Cidade do Cabo sobre Justiça Global e Solidariedade, que foi assinada ao final do simpósio, reflete a urgência e a necessidade de uma intervenção eficaz. “O documento está em sintonia com o que foi discutido. Se for levado a sério nas instâncias de decisão, poderá gerar impactos positivos para o nosso futuro”, afirmou o padre.

Participantes no Simpósio
Participantes no Simpósio

Demandas para um novo pacto global

A declaração, que contou com a participação de representantes de diversas entidades, incluindo a Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal da África Austral, pide reformas estruturais em sistemas financeiros e de governança global. Os compromissos propostos incluem:

  1. Um Novo Contrato Social para a Economia Global, centrado na dignidade humana e na sustentabilidade ambiental;
  2. Justiça da Dívida, com o cancelamento da dívida ilegítima;
  3. Fim da Fome e Alimentação com Dignidade, com programas universais de merenda escolar até 2030;
  4. Solidariedade Planetária e Transformação Ecológica, com financiamento climático direcionado ao Sul Global;
  5. Governança Global Inclusiva, que integre líderes religiosos, mulheres, jovens e a sociedade civil em processos decisórios.

Na entrevista, o P. Cachingona enfatizou a importância da alimentação escolar: “Sem alimentação, as crianças abandonam a escola. Um saco vazio não fica de pé. A educação é a base do desenvolvimento, e não podemos comprometer o futuro da África.”

Dom Tjhulani com religiosas, participantes no Simpósio
Dom Tjhulani com religiosas, participantes no Simpósio

A Declaração será apresentada à União Africana, à presidência sul-africana do G20, às Nações Unidas e ao Vaticano. O P. Cachingona fez questão de salientar que soluções técnicas não são suficientes: é necessária uma renovada responsabilidade moral global. Para ele, trata-se de “uma voz autorizada que pode orientar os destinos da África nos tempos vindouros.”

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