O consumo de dióxido de cloro, uma substância comumente usada como alvejante industrial, está se tornando um polêmico tema de discussão nos Estados Unidos. Influenciadores de saúde alternativa têm promovido seu uso como uma “cura” milagrosa para uma variedade de doenças, desde COVID-19 até câncer, ignorando os alertas das autoridades de saúde que apontam para os perigos do consumo dessa substância. Esse fenômeno, frequentemente chamado de ‘bleacher movement’, tem ganhado força ao longo dos anos, especialmente após declarações controversas de figuras públicas.
A origem do movimento
A popularidade do dióxido de cloro como remédio começou na década de 1990, quando o pesquisador alemão Andreas Kalcker começou a promover a solução mineral milagrosa, conhecida como MMS (Miracle Mineral Solution). Desde então, o uso do dióxido de cloro tem sido amplamente discutido em grupos nas redes sociais, que se tornaram plataformas para compartilhar experiências e endossar seu uso. Christina Dominguez, uma residente de Liberty Hill, Texas, testemunhou como usou a solução para curar sua dor de garganta, e relata estar convencida dos benefícios da substância.
A resposta das autoridades de saúde
As autoridades de saúde, incluindo a FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA), alertaram sobre os riscos associados ao consumo do dióxido de cloro. A FDA descreveu o ato de ingerir produtos de dióxido de cloro como equivalente a beber alvejante, listando efeitos colaterais graves, como dor abdominal, náuseas, vômitos e até falência hepática. Em 2020, mais de 16.000 casos de intoxicação por dióxido de cloro foram registrados, incluindo múltiplas internações de crianças.
Doutores e especialistas em saúde, como o Dr. Josh King, diretor médico do Centro de Controle de Venenos de Maryland, alertam que os benefícios alegados não são comprovados e que muitas das práticas relacionadas ao seu uso são potencialmente perigosas.
A influência de figuras públicas
O movimento ganhou notoriedade quando, durante a pandemia de COVID-19, o então presidente Donald Trump sugeriu que os doentes poderiam se beneficiar ao “injetar desinfetante”. Embora tenha alegado que era uma observação sarcástica, a sugestão alimentou um apelo à busca por tratamentos alternativos como o dióxido de cloro. Recentemente, Robert F. Kennedy Jr., ex-secretário de Saúde e abertamente cético em relação às vacinas, também fez menções que podem ter impulsionado o movimento, garantindo que era importante explorar “todas as diferentes opções” de tratamento.
O impacto das redes sociais
As redes sociais têm desempenhado um papel vital na disseminação de informações sobre o dióxido de cloro. Grupos como “Chlorine Dioxide” e “Secret Mineral” atraiem milhares de novos membros mensalmente, onde discussões sobre a desconfiança em relação à ciência e a medicina tradicional estão em alta. Para muitos, o uso do dióxido de cloro é visto como uma oportunidade de escapar do que percebem como uma indústria farmacêutica controladora.
Entretanto, especialistas em autismo e defensores de direitos infantis expressam preocupação com as práticas que envolvem administrar dióxido de cloro a crianças autistas. Fiona O’Leary, uma ativista irlandesa com filhos no espectro, alertou que “legitimar curas com alvejantes é perigoso” e as consequências podem ser devastadoras.
Histórias de vítimas
Nos grupos de suporte, relatos de efeitos adversos, como vômitos e reações alérgicas graves, têm surgido entre pais que administram a substância a seus filhos. Um dos casos mais alarmantes foi o de uma criança de seis anos que desenvolveu insuficiência hepática após ingestão do produto. Historicamente, o uso da solução foi associado a tragédias, como em 2021, quando um garoto foi morto após o uso do produto por seus pais na crença de que ele os protegeria da COVID-19.
Caminhos a seguir
À medida que novas informações estão sempre emergindo sobre o uso de dióxido de cloro, as discussões sobre segurança e legitimação de práticas alternadas continuam a se intensificar. Especialistas iniciam campanhas para informar o público sobre os perigos do uso não autorizado de substâncias químicas, enquanto os defensores do dióxido de cloro veem as críticas como tentativas de silenciar novas curas no setor da saúde.
As controvérsias em torno do dióxido de cloro refletem um desafio maior em torno da confiança na ciência e na medicina moderna, especialmente em tempos de crise como a pandemia. À medida que o debate prossegue, o mais importante é proteger os vulneráveis e garantir que as informações divulgadas sejam baseadas em evidências científicas e pesquisas rigorosas.