Os mercados globais vêm acompanhando atentamente os efeitos da recente aprovação do megaprojeto de lei orçamentária pelo Congresso dos Estados Unidos, durante um momento em que a dívida do país atingiu níveis recordes. Os juros para obter crédito nos mercados estão elevados, e investidores questionam a sustentabilidade da dívida americana, que hoje ultrapassa US$ 36,2 trilhões.
Conhecendo a dívida dos EUA
Segundo o Tesouro dos EUA, aproximadamente US$ 29 trilhões da dívida do país estão em títulos no mercado de obrigações. Uma parte significativa está domiciliada nos EUA, mas cerca de um terço pertence a países estrangeiros, principalmente Japão, Reino Unido e China. Desde 2020, especialmente após a guerra comercial com a China, os chineses vêm se desfazendo dessa dívida para adquirir ouro, não vendendo títulos, mas evitando renová-los ao vencimento, explica Aurélien Buffault, gestor de títulos na Delubac AM.
Razões para o aumento dos juros
Os juros pagos pelos EUA para obter crédito subiram devido às percepções de risco no cenário econômico. Quando sinais de fraqueza se intensificam, os investidores exigem taxas mais altas como compensação. Recentemente, o rendimento do título de 30 anos ultrapassou 5%, refletindo essa preocupação.
De acordo com Gregoire Kounowski, conselheiro de investimentos na Norman K, o principal fator foi a aprovação de uma lei impulsionada por Donald Trump, que busca estender benefícios fiscais de seu primeiro mandato. Essa medida pode aumentar a dívida federal em até US$ 4 trilhões (R$ 22 trilhões), elevando os custos do endividamento.
O papel do dólar e a busca por refúgio
Apesar de os EUA continuarem sendo considerados um porto seguro devido à liquidez de seus títulos e à forte tradição de pagamento, o cenário de instabilidade tem causado uma saída de investidores, que buscam ativos alternativos. Desde que Trump impôs tarifas comerciais, o dólar se desvalorizou mais de 10% no primeiro semestre — sua pior trajetória desde 1973. Além disso, o ouro atingiu valores recorde.
Imâne Rahmouni-Rousseau, diretora do Banco Central Europeu, destaca que a volatilidade leva investidores a buscar valor de refúgio em moedas e ativos mais seguros, como o euro e títulos europeus. Essa mudança reforça a atratividade dos mercados financeiros europeus, considerados mais estáveis desde a crise de 2011.
Perspectivas futuras e riscos
As tensões políticas, a política comercial de Trump e a política monetária do Federal Reserve criam um ambiente de incerteza para a economia norte-americana. O aumento dos juros e o elevado endividamento desafiam a sustentabilidade do país, enquanto o mercado busca alternativas de proteção e segurança financeira.
Para especialistas, a trajetória da dívida e a resposta dos mercados serão determinantes nos próximos anos. A alta dos juros pode encarecer ainda mais o crédito e afetar o crescimento econômico, além de levantar questionamentos sobre a resiliência financeira dos Estados Unidos.