De 6 a 7 de julho, o Rio de Janeiro recebe a 17ª cúpula do Brics, que reúne líderes de economias em rápido crescimento para enfrentar medidas protecionistas do Ocidente e discutir sua expansão e influência global. O evento ocorre sob o desafio de consolidar uma voz multipolar e contornar disputas internas entre os integrantes.
Brics busca fortalecimento em meio a protecionismo e disputas internas
O encontro ocorre em um momento de crescente tensão internacional, com os Estados Unidos adotando política tarifária agressiva e medidas de sanções econômicas. Na cerimônia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume a presidência rotativa do bloco e tenta ampliar a influência do grupo como alternativa às instituições dominadas pelo Ocidente. Entre os presentes estão lideranças da Índia, China e outros países em desenvolvimento, enquanto o presidente russo Vladimir Putin não comparece, devido a um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
A história e a transformação do Brics
Fundado em 2001 pelo economista Jim O’Neill do Goldman Sachs, o termo Bric identificava Brasil, Rússia, Índia e China como economias emergentes com potencial de liderar o crescimento global até 2050. A primeira cúpula ocorreu em 2009 na Rússia, e com a adesão da África do Sul em 2010, o grupo passou a se chamar Brics, aliado a um propósito de contrapor o G7, liderado pelas potências ocidentais.
Desde então, o grupo busca estabelecer uma ordem mundial multipolar, criaram mecanismos financeiros próprios como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e discutem alternativas ao dólar no comércio internacional. Tais iniciativas despertaram reações negativas de Washington, incluindo ameaças tarifárias e críticas ao unilateralismo do grupo.
Tentativas de ampliar e consolidar o papel do bloco
Atualmente com 10 países, incluindo Egito, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Irã, o Brics cresce ao criar a categoria de países parceiros, chamada Brics+, com demandas de adesão de mais 44 nações, como Arábia Saudita, Malásia e Nigéria. Ainda que seja um grupo sem estrutura formalizada, o avanço no comércio (mais de US$ 1 trilhão entre os membros) e a pactuação de fundar uma moeda própria enfrentam resistências internas, principalmente da Índia, preocupada com a hegemonia chinesa.
Divisões internas e desafios futuros
O bloco enfrenta tensões decorrentes das diferenças econômicas e políticas entre seus membros. China e Rússia utilizam o Brics como contrapeso à hegemonia ocidental, enquanto Índia e Brasil defendem maior cooperação econômica e evitam o confronto geopolítico.
As disputas por influência e interesses nacionais podem dificultar reformas necessárias, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, FMI e Banco Mundial. Além disso, divergências envolvendo planos de adesão de países, como Arábia Saudita e Venezuela, exemplificam as dificuldades em alcançar consenso.
Perspectivas e impacto no cenário global
Analistas avaliam que o fortalecimento do Brics pode contribuir para um sistema multipolar mais equilibrado, especialmente diante do protecionismo do Ocidente. Contudo, as divisões internas, as rivalidades entre membros e o receio de dominância da China representam obstáculos ao projeto de uma nova ordem global. A influência do dólar no comércio mundial e as tensões com países ocidentais ainda dificultam uma efetiva desdolarização, mesmo com o avanço de moedas locais.
O encontro no Rio, portanto, marca uma etapa importante da tentativa do grupo de consolidar seu papel frente às pressões internacionais, ampliando sua influência econômica e política, mas também revela os desafios de coesão e alinhamento entre seus integrantes.