O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado a importância de ampliar as transações em moedas locais entre os países do Mercosul e do Brics. Em discursos recentes na Argentina e no Rio de Janeiro, Lula afirmou que 30% das operações do Brics já são feitas em moedas nacionais, reforçando a estratégia de desdolarização e fortalecimento do comércio regional.
A estratégia de reduzir o uso do dólar
Segundo Lula, a intenção é promover maior autonomia econômica e diminuir custos nas negociações internacionais. “Se podemos pagar em reais, pesos ou yuan, por que continuar usando o dólar de forma predominante?”, questiona o presidente. Essa mudança favorece a redução na triangulação de moedas e nas tarifas de transação, explica Carla Beni, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Movimentos globais mimetizam o contexto regional
O debate sobre a desdolarização não é exclusivo do Brasil. Países de diferentes blocos têm buscado alternativas ao dólar, impulsionados por fatores como a política protecionista dos Estados Unidos e a volatilidade da moeda americana. Robson Gonçalves, consultor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre FGV), destaca que a criação de mecanismos regulatórios, como acordos de swap cambial e reservas em moedas estáveis, é essencial para mitigar riscos nas operações em moedas locais.
Perspectiva de moedas comuns e digitais
Uma das possibilidades discutidas é a criação de uma moeda comum para o Brics ou Mercosul, incluindo a opção de moedas digitais que facilitem transações sem a circulação física. Essa estratégia visa reduzir custos de corretagem e simplificar o comércio entre os países, promovendo uma economia mais multipolar e menos dependente do dólar.
Desafios e riscos na implementação
Apesar do otimismo, há preocupação quanto à instabilidade de moedas de países com economia mais volátil, como o peso argentino. Gonçalves lembra que é preciso estabelecer regras claras, como cláusulas de troca de moeda e garantias de estabilidade, para evitar riscos de flutuação excessiva nas reservas nacionais.
O papel do Brasil e o cenário internacional
O investimento do Brasil na diversificação de moedas de reserva — atualmente, quase 80% em dólar, mas com crescimento de reservas em yuan e euro — demonstra a prática desse movimento. Analistas apontam que os países, especialmente os liderados pelos Estados Unidos, precisarão liderar essa mudança para criar um ambiente de negociação mais multipolar, onde o dólar perca sua hegemonia na economia global.
Especialistas reforçam que a multipolaridade pode incentivar o uso de diferentes moedas em transações internacionais, fortalecendo a autonomia econômica dos blocos e aumentando a competição no cenário global. Lula reforça essa pauta como estratégia-chave para o fortalecimento econômico do Brasil no cenário mundial, buscando reduzir custos e ampliar a influência regional.
Para saber mais sobre os passos do Brasil nessa transição, consulte o comentário de Miriam Leitão.