A crise causada pelo aumento do Imposto de Operações Financeiras (IOF) deu início a um embate digital acirrado entre o governo e a oposição no Brasil. Nos últimos dias, contas ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT) têm utilizado vídeos criados por Inteligência Artificial (IA) para caracterizar o Congresso Nacional como um “inimigo do povo”, enquanto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), é satirizado como “Hugo Nem Se Importa”. Essa tática se intensificou após a resposta negativa da instituição ao aumento do IOF, resultando em um verdadeiro embate nas redes sociais.
A origem da controvérsia
Segundo um relatório da consultoria Bites, feito a pedido do jornal O GLOBO, o movimento começou em 17 de junho, um dia após o Congresso se manifestar contra o aumento do IOF. Contas anônimas ou de pouca expressão ligadas ao PT começaram a usar o termo “Congresso inimigo do Povo” em suas publicações, especialmente direcionadas a Hugo Motta. A estratégia de ataque ganhou força em uma quarta-feira, quando foram registradas 280 mil menções e 1,7 milhão de interações nas redes sociais.
O governo, segundo a Bites, conseguiu pautar a discussão online sobre questões tributárias, acumulando mais de 1 milhão de publicações em defesa de sua posição desde 25 de junho, com mais de 6 milhões de interações. Influenciadores e perfis governistas, como o do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm caído nas publicações, mobilizando a base social do governo.
Personagens e influenciadores no cenário digital
Entre os destaques dessa batalha digital estão influenciadores pró-governo como Pedro Ronchi e o veículo Mídia Ninja, além de figuras progressistas reconhecidas, como a ex-atleta Joanna Maranhão e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP). O Mídia Ninja, inclusive, defendeu a taxação dos super ricos e repercutiu o slogan “Congresso inimigo do povo”, chamando para uma manifestação contra o Congresso e a favor do governo marcada para o dia 10 de julho.
Convidados a se manifestar, os responsáveis pelos perfis que vêm disseminando os conteúdos não se pronunciaram. Entretanto, o governo elevou o tom de suas críticas ao Congresso, particularmente após a derrubada do decreto que buscava aumentar a arrecadação diante das dificuldades fiscais do ano.
Mobilização entre influenciadores
Na quarta-feira, o PT convocou influenciadores de esquerda para intensificar a comunicação em defesa do governo, o que resultou numa participação de cerca de 300 pessoas em um encontro virtual. O deputado federal Jilmar Tatto, secretário nacional de comunicação do PT, foi um dos presentes e destacou que o embate é contra a elite econômica e não uma crítica ao Congresso em si.
“Nós levamos tempo para acertar essa mobilização, mas finalmente estamos em ação”, afirmou Tatto, sugerindo que agora era hora de que influenciadores criassem conteúdos próprios, sem depender sempre de direcionamentos do governo.
A retórica de “ricos contra pobres”
A retórica adotada pelos apoiadores do governo nas redes sociais gira em torno do conflito entre “ricos e pobres”. A popularidade de vídeos gerados por IA nesse contexto é notável, com clipes criticando ações do Congresso e, em particular, a figura de Hugo Motta. Um dos vídeos, publicado no TikTok, apresenta uma representação fictícia de Motta como “Hugo Nem Se Importa” e o critica por priorizar os interesses da elite em detrimento dos cidadãos comuns.
Esses vídeos, entre os quais se destaca a criação de accounts como “brasilsatiradopoder”, estão se tornando virais. Um dos clipes, que já contabiliza milhares de curtidas, ressoa a mensagem de que enquanto o número de deputados aumenta, as isenções fiscais aos ricos permanecem intactas.
A influência de influenciadores e o papel do PT
Influenciadores como Lázaro Rosa têm compartilhado esses conteúdos, chamando a atenção de seus seguidores para as críticas ao Congresso. Um deles, por exemplo, ironiza Motta em uma cena de um jantar executivo, enfatizando a desconexão do político em relação às necessidades do povo. O próprio perfil do PT nas redes sociais tem utilizado vídeos gerados por IA, abordando temas de justiça fiscal e defendendo uma distribuição mais equitativa dos impostos.
O movimento abrange não só influenciadores locais, mas também o surgimento de novos portais de notícias que apoiam abertamente a retórica do governo. Enquanto isso, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, trabalha para restabelecer o diálogo com o Congresso, uma abordagem contrastante à retórica mais agressiva adotada por outros membros do governo.
Conclusão
Neste cenário volátil, a batalha digital travada entre o governo e o Congresso não apenas reflete a tensão política atual no Brasil, mas também revela como as novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, podem ser empregadas para moldar narrativas e influenciar a opinião pública. Com a estratégia de ataque tomando forma, a mobilização de influenciadores pode ter um impacto significativo no desenrolar dos próximos eventos políticos.