O cenário no Palácio do Planalto se torna cada vez mais desafiador, à medida que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva busca uma solução para navegar a turbulência criada pela recente derrubada do reajuste no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso. A estratégia adotada agora é “jogar parado”, visando uma distensão nas relações entre o Executivo e o Legislativo. Essa abordagem reflete a necessidade de evitar uma nova crise institucional que possa impactar a governabilidade e, consequentemente, as metas fiscais do país.
A crise do IOF e suas consequências
Através de uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), o governo expressou sua disposição em contestar a decisão do Congresso, que surpreendeu a base ao derrubar o aumento do IOF. Enquanto Lula se concentra em compromissos internacionais, como sua participação na presidência do Mercosul e no Fórum do Brics, seus ministros precisam agir rapidamente para recuperar a confiança dos legisladores e evitar maiores riscos.
Na quarta-feira (2), o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, se reuniu com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, onde o diálogo foi descrito como positivo. Durante o encontro, o Executivo expressou a necessidade de ajustar a meta fiscal sem sacrificar as chances de reeleição em 2026, enquanto pediu ao Legislativo que moderasse a retórica de “ricos contra pobres” que emergiu após a polêmica sobre o IOF.
A pressão sobre o presidente da Câmara
Em meio a esse clima, o presidente da Câmara, Hugo Motta, se tornou um alvo de ataques nas redes sociais, principalmente pelo papel que desempenhou na votação que culminou na derrubada do aumento do IOF. Motta veio a ser rotulado como um “traidor” por muitas vozes que se originaram de uma base que inicialmente o apoiou. As críticas nas redes sociais se intensificaram, e a hashtag “Congresso da mamata” tornou-se um dos assuntos mais comentados.
A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, também pediu cautela, orientando que os ataques ao presidente da Câmara cessem. Este pedido reflete a necessidade premente de unificação nas forças políticas para evitar o aprofundamento da crise.
Desdobramentos das negociações
- O governo anunciou no fim de maio um aumento no IOF, prevendo arrecadar quase R$ 20 bilhões a serem destinados a metas fiscais.
- A reação negativa do Congresso forçou o Planalto a recuar, optando por um ajuste menor antes que Motta agendasse a votação da urgência em relação ao projeto de reforma que derrubava o aumento.
- O clima de tensão culminou em uma votação em que apenas 98 deputados apoiaram o governo, marcando a primeira revogação de um decreto presidencial desde a era Collor.
A derrota do governo não é apenas uma questão política, mas tem implicações diretas sobre os programas sociais e demais emendas que dependem do orçamento garantido pelo IOF. A pressão aumenta sobre os aliados, e a frustração entre os membros da base de apoio ao governo cresce à medida que as medidas de austeridade se tornam inevitáveis.
A importância da distensão
Com um ambiente político tão carregado, a estratégia de “jogar parado” emerge como uma tentativa de estabilizar as relações entre os poderes. O governo busca iniciativas que possam restaurar o diálogo sem parecer que capitulou para as pressões externas. As negociações e alianças são essenciais para o futuro do governo Lula, especialmente em um ano eleitoral como 2026, onde cada movimento conta.
Quando Lula voltará à cena
Interlocutores afirmam que Lula deve intensificar suas intervenções nas negociações na próxima semana, após participar de eventos internacionais. Essa presença pode ser um divisor de águas para a administração e o relacionamento com o Congresso, especialmente considerando que a instalação de um diálogo mais equilibrado depende da disposição de ambos os lados em ceder.
Como o governo avalia sua posição e prepara suas respostas, a expectativa é que medidas concretas sejam discutidas em busca de uma solução viável que beneficie o país, ao mesmo tempo que assegura a governabilidade em um cenário político cheio de armadilhas. A situação é complexa, mas a determinação de jogar parado pode ser o primeiro passo em direção a um novo entendimento político.
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