Na noite desta terça-feira, 4 de julho, às 22h, o duelo entre Palmeiras e Chelsea pela semifinal do Mundial de Clubes não será apenas um confronto esportivo, mas também um cenário de despedida para o jovem atleta Estêvão. O jogador, já adquirido pelos ingleses há um ano, poderá se despedir do Brasil precisamente diante de sua futura equipe. Este evento é um reflexo do crescente movimento de transferência de jovens talentos brasileiros para o exterior, uma tendência que tem se intensificado nos últimos anos.
A saída dos jovens atletas brasileiros
Estêvão não é o único jogador a deixar o Brasil essa janela de transferências ao atingir a maioridade. O meia Gabriel Carvalho, do Internacional, também está a caminho do Al Qadisiyah, da Arábia Saudita. Essa movimentação destaca uma tendência que começou a ganhar força novamente. No início deste ano, outros três atletas deixaram a Série A, incluindo William Gomes, ex-São Paulo, que se transferiu para o Porto-POR e a dupla Esquerdinha e Kauã Elias, que foram para QPR-ING e Shakhtar Donetsk-UCR, respectivamente.
Historicamente, o fluxo de jogadores brasileiros para o exterior se intensificou na última década, com transferências de destaque como as de Paulinho, Vinícius Jr. e Rodrygo. A pandemia causou uma desaceleração no ritmo dessas transferências, mas, de acordo com dados recentes, o número de jovens jogadores brasileiros que deixaram o país ao completar 18 anos voltou a subir. Em 2022, seis jogadores dessa faixa etária partiram de clubes da Série A apenas para o exterior.
O papel dos clubes europeus
Os clubes europeus têm se beneficiado deste cenário. Em sua última temporada, as cinco principais ligas da Europa registraram a chegada de 33 jovens talentos de diversos países que acabaram de completar 18 anos, com a Premier League sendo o destino mais procurado, reunindo 14 destes atletas.
Vantagens financeiras para os clubes formadores
Essa tendência traz vantagens tanto para os clubes que formam os jogadores quanto para os próprios atletas. Para os clubes que desenvolveram esses jogadores, ainda é possível participar de sua formação contínua, e, mais importante, eles podem receber um percentual significativo a cada venda internacional, que pode chegar a 60% do que é conhecido como mecânica de solidariedade.
Para os atletas, realizar uma transfer para um clube europeu é um sonho que muitos buscam realizar. No entanto, essa decisão gera riscos e desafios, como a mudança para um novo país e a adaptação a uma nova cultura. Apesar do sucesso de jogadores como Vini Jr. no Real Madrid, há também casos de atletas que retornaram ao Brasil após dificuldades em se firmar no futebol europeu, como o caso de Paulinho e Vitor Roque.
O desafio da adaptação no exterior
A adaptação ao novo ambiente pode ser um desafio imenso. Muitos jogadores chegam a um novo país sem a companhia de familiares e amigos, o que pode aumentar o sentimento de solidão e saudade. Alguns especialistas acreditam que ter a família por perto pode ser crucial para ajudar os atletas a atravessar esse difícil período de transição. O psicólogo Alberto Filgueiras, que já trabalhou com atletas do Flamengo, enfatiza que a companhia da família pode ser reconfortante, enquanto a presença de amigos pode ter um efeito contrário ao manter as lembranças de casa viva, dificultando a adaptação.
No entanto, as condições financeiras nem sempre permitem que os atletas levem familiares ou amigos junto com eles. Portanto, muitos têm que navegar por esse processo sozinho, tornando essencial o papel de empresários e agentes que possam fornecer o apoio necessário. Francisco Araújo, por exemplo, se mudou para Portugal para se aproximar dos atletas que ajuda a gerenciar, criando uma rede de suporte para aqueles que enfrentam a solidão da distância.
A transição de titular a reserva
Um dos maiores desafios reside na gestão das expectativas. Muitos jogadores que chegam ao futebol europeu, especialmente em clubes grandes, passam de titulares em suas equipes no Brasil para reservas nos novos clubes. A pressão para se adaptar rapidamente pode ser avassaladora, e a necessidade de cada treino ser uma oportunidade de impressionar treinadores é uma realidade constante. Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, alerta para a importância de os atletas estarem cientes desse fato e a urgência em aproveitar cada oportunidade que lhes é dada.
O caso do Chelsea, que tem um histórico de boa formação, mas também de mal aproveitamento de talentos como Kevin De Bruyne e Mohamed Salah, serve como um alerta para a realidade que muitos jovens atletas enfrentarão ao tentar se estabelecer na Europa. O duelo entre Palmeiras e Chelsea e a performance de Estêvão no jogo podem ser decisivos, não apenas para seu futuro como jogador, mas também para a nova era de transferências de jovens talentos brasileiros que esperam brilhar em campos internacionais.