A partir da aposta do presidente Javier Milei no livre mercado, a exploração do petróleo em Vaca Muerta, na Argentina, finalmente começa a mostrar sinais de sucesso após uma década de estagnação. O campo de xisto, localizado na Província de Neuquén, passa por uma fase de expansão acelerada, impulsionada por medidas de liberalização e incentivo fiscal, em um momento em que os preços do petróleo estão em baixa.
Projeto de sucesso ou risco de desalento?
O esforço de Milei para transformar a Argentina em uma potência petrolífera visa tirar o país de uma crise econômica prolongada e mudar um perfil econômico tradicionalmente voltado à agricultura. Segundo especialistas, se os efeitos forem duradouros, o projeto pode consolidar uma nova base econômica para o país e atrair investimentos estrangeiros.
Impacto no mercado de petróleo
Nos últimos meses, a produção diária de petróleo em Vaca Muerta cresceu 28%, atingindo cerca de 442 mil barris em abril — uma quantidade que pode ultrapassar 1 milhão de barris nos próximos anos, aproximando-se de alguns países membros da Opep. Empresas argentinas, como YPF, Vista Energy e Pampa Energia, permanecem firmes em seus investimentos, mesmo diante da volatilidade dos preços internacionais, que oscilaram entre níveis mínimos em anos.
Para acelerar essa expansão, o governo de Milei aboliu limites de preços do petróleo, flexibilizou controles cambiais e concedeu isenções fiscais de 30 anos ao setor de energia, quase sem precedentes. Segundo analistas, esse pacote de medidas pode transformar a Argentina em uma potência exportadora de petróleo, competindo de frente com a produção americana no futuro.
Desafios e riscos de longo prazo
Apesar do otimismo, o cenário permanece incerto. Os preços internacionais do petróleo continuam voláteis, dificultando planos de médio e longo prazo. Além disso, há o risco de que, caso o projeto não gere resultados antes das eleições presidenciais de 2027, a popularidade de Milei possa ser afetada, colocando em dúvida o projeto do petróleo e desincentivando investimentos estrangeiros.
Na região de Neuquén, a migração de trabalhadores e a crescente urbanização refletem o boom econômico, mas também revelam desafios de sustentabilidade, como a expansão desordenada e os riscos ambientais. A cidade de Añelo, por exemplo, multiplicou sua população de aproximadamente 2 mil para cerca de 11 mil habitantes desde 2011, mas sofre com questões de infraestrutura e desigualdade social.
Perspectivas de longo prazo
Especialistas apontam que, apesar das dificuldades, a formação rochosa de Vaca Muerta possui potencial para consolidar a Argentina como um grande exportador de petróleo no cenário global. A conclusão de um oleoduto de 567 quilômetros, que levará o petróleo até a costa atlântica, é vista como uma iniciativa estratégica para ampliar a exportação e aumentar a arrecadação do país.
De acordo com o diretor de operações da Vista Energy, Matías Weissel, o momento atual é propício para esse crescimento, que pode levar a Argentina a igualar as exportações de outros pilares econômicos, como a agricultura, de forma a transformar sua matriz energética e econômica.
Embora os obstáculos políticos, ambientais e de mercado ainda persistam, o futuro de Vaca Muerta depende, sobretudo, da continuidade das políticas de Milei e da manutenção de um ambiente de negócios favorável na Argentina. A aposta do presidente agora é na geração de riqueza petrolífera suficiente para convencer eleitores e investidores de que o país pode superar suas crises históricas, com a esperança de que o campo de xisto se torne um símbolo de prosperidade para o país.
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