A expectativa de avanços relevantes na COP30, que acontecerá em Belém (PA) em novembro, está baixa devido às crescentes tensões geopolíticas e à postura do governo dos Estados Unidos sob o segundo mandato de Donald Trump, que anunciou a saída do Acordo de Paris. O cenário internacional complicado acaba dificultando progressos nas negociações diplomáticas, que já enfrentam dificuldades antes da conferência.
Impacto das tensões internacionais na conferência
Algumas discordâncias já ficaram evidentes em Bonn, na Alemanha, onde ocorreram reuniões diplomáticas importantes da UNFCCC neste mês, antes da COP30. As tensões aumentaram com a guerra comercial dos EUA, a continuidade do conflito entre Rússia e Ucrânia e os recentes ataques de Israel ao Irã, incluindo ações americanas às instalações nucleares iranianas.
Resistências e estratégias paralelas
Apesar da hostilidade entre países, observadores destacam a relevância da agenda paralela, do setor empresarial e da sociedade civil. Os eventos fora das negociações tradicionais vêm ganhando força, como a Agenda de Ação, proposta inicialmente na COP20, que reúne esforços voluntários de diversos atores para impulsionar ações concretas contra as mudanças climáticas.
Preparativos e protagonismo brasileiro
A presidência brasileira da COP30 reforça a importância dessas ações. Em Bonn, foi divulgada a quarta carta da presidência, que apresenta a visão do Brasil para a Agenda de Ação Climática Global, visando criar uma nova dinâmica de cooperação internacional. “Nosso objetivo é alinhar esforços de diferentes setores em uma ação coordenada”, afirmou o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30.
Antes do evento, Corrêa do Lago destacou o engajamento do setor privado e da sociedade civil, ressaltando que a COP de Belém deve focar na implementação de soluções concretas, com o setor empresarial desempenhando papel central. Segundo ele, a colaboração entre atores públicos e privados será decisiva para o avanço das metas internacionais.
Perspectivas para a COP30 e ações paralelas
Na cidade de Belém, ocorrerão eventos paralelos relevantes, como a 16ª edição do World Climate Summit e a organização da Investment COP, que reunirá investidores interessados em financiar ações sustentáveis e de descarbonização. Além disso, a entidade coorganizará um pavilhão junto ao Instituto Clima e Sociedade (iCS), reforçando o papel da sociedade civil nas discussões.
Maria Netto, diretora do iCS, reforça que a COP30 marca os dez anos do Acordo de Paris e que a conferência é crucial para fortalecer o multilateralismo em um momento de tensões internacionais crescentes. Ela também destaca a importância do envolvimento do setor financeiro e empresarial na mobilização de recursos para ações climáticas.
O papel da sociedade civil e desafios futuros
A sociedade civil continuará a exercer papel importante nas negociações, realizando debates e mobilizações, como a prevista Cúpula dos Povos em Belém. Especialistas alertam, contudo, que as dificuldades entre os países podem limitar a eficácia dos resultados. “As tensões e o negacionismo dos EUA dificultam os avanços na agenda de negociações”, comenta Adriana Ramos, do ISA.
Com baixa expectativa de avanços na agenda diplomática, a prioridade deverá ser a ação do setor privado e de atores não estatais, que podem impulsionar mudanças mais rápidas e efetivas. Segundo observadores,放em tudo, há ainda a questão do mercado de carbono, que aguarda regulamentação internacional para avançar.
A crise política global e as disputas de interesses entre as maiores potências tornam ainda mais complexa a concretização de compromissos internacionais, mas a COP30 em Belém aposta na mobilização de todos os setores da sociedade para promover ações efetivas contra as mudanças climáticas. A conferência, portanto, será um teste para o multilateralismo em tempos de conflito geopolítico.
Para mais detalhes, acesse o site do O Globo.