Uma disputa interna no PT sobre os rumos dos Correios deve mudar a direção da estatal. O presidente da empresa, Fabiano Silva, indicado pelo grupo Prerrogativas, de advogados ligados ao partido, foi aconselhado por aliados a pedir para deixar o cargo. O comando da estatal é cobiçado pelo União Brasil, que já está à frente do Ministério das Comunicações, ao qual a empresa está subordinada.
Conflito interno e crises externas
No centro dessa disputa está o atual presidente dos Correios, Fabiano Silva, que enfrenta uma série de desafios tanto dentro quanto fora da empresa. O chefe dos Correios trava uma queda de braço com o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Enquanto a estatal luta com prejuízos financeiros, a Casa Civil está pressionando por mudanças drásticas, propondo demissões e um plano de enxugamento de gastos.
Recentemente, a empresa registrou um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024. Pessoas ligadas à cúpula da estatal defendem que a empresa não é necessariamente feita para lucrar, e enfatizam os altos custos operacionais devido à sua presença em diversos municípios do Brasil.
Pressões e expectativas de mudanças
Internamente, o grupo Prerrogativas buscou apoio de deputados do PT, que demonstraram solidariedade à sua causa. No entanto, a ministra da Secretaria das Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, tem se mantido distante desse conflito, o que levanta questões sobre o futuro da liderança da estatal.
Fabiano Silva, sob pressão de Rui Costa, resiste em realizar as demissões demandadas. Ele inclusive mencionou em uma reunião no final de junho que está preparando uma carta solicitando não ser reconduzido ao cargo, tendo seu mandato atual previsto para acabar em agosto. Há informações de que a carta deve ser entregue ao presidente Lula, mas ainda não há uma decisão oficial sobre sua saída.
Papel do governo e relações partidárias
O impasse em relação à permanência de Silva está vinculado à instabilidade política e às manobras no governo. A estatal dos Correios está sob a alçada do Ministério das Comunicações, liderado pelo União Brasil, que tem constantemente se queixado pela falta de indicações para cargos de liderança na empresa. O senador Davi Alcolumbre (União-AP), responsável por organizar as indicações da legenda, já tem um aliado na Diretoria de Negócios dos Correios, o que aumenta as pressões para mudanças no comando.
Apesar das dificuldades, Alcolumbre procura manter diálogo com o Executivo e outros aliados da máquina pública federal, como os ministros das Comunicações, Integração e Turismo, demonstrando sua influência na muitas questões governamentais.
A pressão por uma remodelação na gestão dos Correios se intensificou não só por questões internas, mas também pela necessidade percebida do governo de conter os gastos e a eficiência da operação da empresa. O impacto do novo marco regulatório das compras internacionais, que inclui a cobrança do Imposto de Importação — a chamada “taxa das blusinhas” — também é um fator negativo que contribui para o cenário desfavorável enfrentado pela estatal.
Por conta das viagens de Lula e da necessidade de solução para a crise envolvendo o decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a reunião esperada entre o presidente dos Correios e Lula ainda não ocorreu, mas é aguardada para a próxima semana. A expectativa é que uma decisão sobre o futuro da liderança da estatal seja discutida, considerando as crescentes pressões políticas e a situação financeira delicada da empresa.
O desdobramento dessa situação pode significar não apenas a troca de liderança nos Correios, mas uma realinhamento de forças políticas no interior do governo, refletindo a complexa interação entre interesses partidários e administrativos que atualmente permeia a política brasileira.