Brasil, 3 de julho de 2025
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Reflexões sobre a fé e as feridas de São Tomé

No dia de São Tomé, Padre Maicon Malacarne convida a refletir sobre a fé que nasce das incertezas e das feridas.

Neste 3 de julho, a Igreja Católica celebra a memória de São Tomé, um dos doze apóstolos que se destacou por sua incredulidade em relação à Ressurreição de Jesus. Embora tenha sido criticado por sua dúvida, as palavras do Padre Maicon Malacarne, em um artigo especial, ressaltam a importância de reconhecer e acolher as incertezas de nossa fé. Segundo ele, é fundamental associar-nos a Tomé em nossos momentos de dúvida, compreendendo que estas fragilidades podem nos levar a um aprofundamento espiritual.

A incredulidade que nos fortalece

As célebres palavras de Tomé, «Meu Senhor e meu Deus», surgiram após ele relutar em acreditar na ressurreição de Cristo e a ser convidado a tocar em suas feridas. O Padre Maicon, refletindo sobre a figura de São Tomé, menciona que o Papa São Gregório Magno defendeu que «a incredulidade de Tomé beneficiou mais nossa fé do que a fé dos discípulos». Essa citação destaca como a dúvida pode ser uma porta para um entendimento mais profundo da crença.

Tomé não apenas questionou, mas mostrou que, através do toque e da experiência concreta, podemos entender melhor a relação com o divino. A fé não deve ser vista como meros conceitos ou sentimentos, mas como uma relação que é frequentemente forjada na fragilidade e na dúvida. Ao reconhecermos nossa fragilidade, podemos nos conectar mais autenticamente com as feridas do mundo ao nosso redor.

Um convite à reflexão profunda

Para embasar sua reflexão, o Padre Maicon cita o renomado teólogo Tomáš Halík, que escreveu um livro chamado «Toque as feridas». Halík ilustra um episódio da vida de São Martinho, onde o santo foi confrontado por Satanás sob a aparência de Cristo. Martinho, atento e perspicaz, questionou: «Onde estão as tuas feridas?». Essa história espelha a essência de uma verdadeira crença, que não ignora a dor e a vulnerabilidade. Halík argumenta que «não acredito em ‘fé sem feridas’, em uma igreja sem feridas, em um Deus sem feridas». Para ele, somente um Deus ferido, através de nossa fé ferida, pode curar o nosso mundo que também se encontra machucado.

O papel da comunidade de fé

A festa de São Tomé não é apenas uma recordação histórica, mas um convite a todos nós, membros da comunidade de fé, a aceitar nossas incertezas e a aceitá-las como parte do percurso espiritual. Nesse sentido, ver a fé como uma relação, que é construída ao longo de experiências, dúvidas e interações, é vital. A comunidade também tem um papel importante aqui; ela deve ser um espaço onde as pessoas se sintam seguras para expressar suas dúvidas e inseguranças. Assim, o ato de compartilhar as feridas pessoais pode gerar um ambiente de cura e solidariedade.

Em tempos de crises e desafios, como os que vivemos atualmente, é mister refletir sobre como a fé pode ser um pilar de suporte. A história de São Tomé nos ensina que, ao transitar pela dúvida, temos a oportunidade de nos aproximar mais do divino, que nos escuta e nos acolhe de forma amorosa. Este caminho pode ser repleto de incertezas, mas também é ricamente abençoado pela certeza da presença de Deus em nossas vidas.

Por fim, ao celebrarmos a memória de São Tomé, que possamos lembrar que a fé é, acima de tudo, uma jornada pessoal e comunitária marcada por toques, experiências e a humanidade que nos conecta. Que ao tocar as feridas do outro, possamos encontrar a cura para nossas próprias dores.

Pe. Maicon A. Malacarne é professor de Teologia Moral e pároco da Paróquia São Cristóvão – Diocese de Erexim/RS.

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