Uma recente pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada na última quarta-feira, aponta que nem mesmo os deputados federais que se identificam como parte da base governista estão a favor do fim da jornada de trabalho na escala 6×1. Com apenas 44% dos parlamentares apoiando a redução da carga horária, 55% se mostram contrários à mudança. Esta questão tem levantado um intenso debate sobre o futuro do trabalho no Brasil.
A escala 6×1 e suas implicações
A escala 6×1, um modelo de trabalho que permite ao trabalhador atuar seis dias por semana, com direito a apenas um dia de folga, é estabelecida pela Constituição brasileira. Embora a legislação limite a carga horária a 44 horas semanais — o que corresponde a aproximadamente 7,3 horas por dia nesse esquema — propostas para alterar essa dinâmica têm ganhado força. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou, no início do ano, uma proposta para abolir esse esquema, sugerindo a transição para um modelo em que os trabalhadores teriam quatro dias de trabalho e três de descanso, embora esteja disposta a negociar em favor de um esquema de cinco dias de trabalho e dois de folga.
A resistência dos parlamentares e as pressões do governo
Os dados da Genial/Quaest mostram que apenas 22% dos deputados federais apoiam a eliminação da jornada 6×1, enquanto 70% se posicionam contra a medida, e 8% não souberam ou não responderam. Bruno Schaefer, professor de Ciência Política da Uerj, observa que alguns temas são impopulares entre a elite política porém populares entre a população, gerando um conflito de interesses. O fim da jornada 6×1 é um exemplo claro dessa discrepância, onde muitos trabalhadores almejam uma mudança significativa.
Além disso, a pesquisa indica que o governo federal está sob pressão para abordar essa questão. Uma resposta à crise de popularidade pode estar ligada a propostas que visam atender as demandas populares. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em um pronunciamento feito recentemente, expressou o objetivo de aprofundar o debate sobre essa jornada de trabalho e enfatizou a necessidade de promover um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar dos trabalhadores.
Apoio em outras pautas e a análise do cenário político
Embora a proposta de eliminar a jornada 6×1 enfrente resistência, a pesquisa também revelou que outras pautas, como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, contam com um suporte significativo entre os parlamentares. Uma impressionante maioria de 97% dos deputados que se autoidentificam como governistas e 85% dos opositores apoiam essa medida. Por outro lado, uma proposta para aumentar a tributação sobre os super-ricos encontra o respaldo de 78% dos governistas, mas é rejeitada por uma vasta maioria da oposição.
Diante desse cenário, o governo também enfrenta desafios em outras áreas. A PEC da Segurança Pública, por exemplo, conta com apenas 43% de apoio entre os deputados independentes e meros 12% entre os opositores. Esse panorama reforça a ideia de que, mesmo em pautas que deveriam ser prioritárias, há uma discordância significativa entre os membros do Congresso.
Enquanto isso, os trabalhadores continuam aguardando por mudanças que possam melhorar suas condições no mercado de trabalho. A batalha pela reforma da jornada de trabalho é um reflexo das complexidades e divergências no sistema político brasileiro e como isso impacta diretamente a vida dos cidadãos.
Portanto, a análise da pesquisa da Genial/Quaest revela um quadro preocupante e, ao mesmo tempo, sugestivo de que, para avançar, serão necessárias negociações mais amplas e um diálogo honesto entre governantes e a sociedade civil. Essa discussão continuará a ser uma pauta relevante nas próximas interações políticas e nas decisões do governo.