Brasil, 3 de julho de 2025
BroadCast DO POVO. Serviço de notícias para veículos de comunicação com disponibilzação de conteúdo.
Publicidade
Publicidade

Ser mãe tornou impossível para mim liderar uma emergência

A experiência de uma médica revela os desafios enfrentados por mulheres e mães na liderança de departamentos de emergência e no setor acadêmico.

Quando tinha 33 anos, me tornei diretora do departamento de emergência e presidente, cargos raramente ocupados por mulheres. Acreditei que minha posição poderia promover melhorias, especialmente para colegas e pacientes femininas.

Barreiras e microagressões na liderança feminina na saúde

Desde o início, enfrentei microagressões e obstáculos à mudança. Um administrador desafiar meu título, um colega de medicina se recusar a me permitir falar, além de comportamento sexista de outros profissionais. Um episódio grave ocorreu quando, após tentar removê-lo do trabalho, ele negligenciou uma paciente com gravidez ectópica, quase causando sua morte. Apesar dos esforços, não consegui proteger a paciente do sexism.

Gestação e o aumento dos desafios no setor de saúde

Ao engravidar, as dificuldades aumentaram. Apesar de ter adiado a maternidade durante a formação médica, os riscos para mulheres médicas — como infertilidade e complicações na gravidez — são elevados. Durante o primeiro trimestre, senti-me como se tivesse uma combinação de gripe e enjoo de carro, mas optei por não falar sobre isso para não parecer fraca.

Trabalho até o último momento possível, mesmo durante o terceiro trimestre, embora trabalhar em turnos noturnos possa prejudicar a saúde de mãe e bebê. Como meu emprego não oferecia licença parental remunerada, foi impossível cuidar de mim mesma adequadamente após o nascimento da minha filha.

Desafios na maternidade e no setor de emergência

Após o nascimento, enfrentamos complicações médicas que exigiram hospitalizações. A difícil busca por uma creche adequada, muitas com listas de espera de dois anos, me levou a levar a criança para reuniões hospitalares — algo que parecia comprometer minha profissionalização aos olhos de colegas mais velhos.

Para alimentar meu bebê, precisei afastar-me a cada quatro horas durante plantões de emergência, muitas vezes atrasando atendimentos críticos. Tentei uma bomba de leite discreta que cabia no sutiã, mas acabei com ducts entupidos, dificultando ainda mais minha rotina. Isso ampliou minha empatia pelos pacientes lactantes.

Equilíbrio difícil entre trabalho e maternidade

Apesar de a maternidade me tornar uma médica mais empática, senti que falhava em ambos os papéis. Enfrentei enxaquecas, ansiedade, privação de sono e culpa materna. Percebi que minha permanência em um ambiente machista, mesmo querendo promover mudanças, tinha um custo alto demais.

Por fim, pedi demissão e aceitei um cargo mais baixo como professora assistente, mais comum entre mulheres. Sem um evento dramático, minha saída refletiu a perda de esperança em mudanças sistêmicas. Pesquisadora Renate Ysseldyk reforça que obstáculos invisíveis dificultam a percepções sobre o sucesso de mulheres na ciência e liderança, levando muitas a abandonar suas carreiras.

O impacto da invisibilidade das dificuldades enfrentadas por mães

De acordo com Isabel Torres, chefe da Mothers in Science, quando mulheres deixam a carreira devido às falhas do sistema, a narrativa muitas vezes as retrata como incapazes ou desmotivadas. Meu caso, assim como o de muitas outras, é um retrato de como o sistema desrespeita e sobrecarrega mulheres e mães na busca por espaço e reconhecimento.

PUBLICIDADE

Institucional

Anunciantes