Wimbledon, um dos torneios de tênis mais tradicionais do mundo, testemunhou uma mudança significativa nesta edição: a substituição dos juízes de linha por um sistema baseado em inteligência artificial, conhecido como Live Electronic Line Calling (ELC). Essa decisão promoveu um intenso debate, não apenas entre os jogadores, mas também entre os fãs, que veem nesta mudança uma ameaça à tradição de 148 anos do All England Club.
A tradição dos juízes de linha
Os juízes de linha eram uma parte icônica da experiência em Wimbledon, um evento onde a elegância e a tradição se entrelaçam. Como aponta Fiona Jones, uma empresária de 52 anos, a presença dos juízes de linha adicionava um charme ao torneio, com seus uniformes característicos. “Era parte da alegria de ir a Wimbledon. A tecnologia é boa, mas sinto que algo se perdeu com a ausência deles”, declarou Jones, ressaltando que a falta desses profissionais faz o fundo da quadra parecer “vazio”.
O ex-tenista norte-americano John McEnroe, crítico dos juízes de linha durante sua carreira, também se manifestou sobre a mudança. Ele agora se vê defendendo um legado que está sendo eclipsado pela tecnologia. A substituição dos juízes de linha não é uma inovação inédita: desde 2007, a tecnologia já auxiliava esses profissionais, especialmente em situações de disputas acirradas que envolviam a repetição de lances.
O impacto da nova tecnologia em Wimbledon
Com a implementação do sistema ELC, mais de 450 câmeras foram instaladas ao redor da quadra, realizando decisões que antes eram de responsabilidade humana. Estas decisões são anunciadas por alto-falantes, um ajuste que tem gerado crítica. Jogadores como a chinesa Yuan Yue expressaram frustração com a dificuldade de ouvir as chamadas, algo que nunca ocorreu sob a vigilância dos juízes de linha, cujas vozes eram bem ouvidas.
Além disso, o norte-americano Frances Tiafoe, cabeça de chave número 12, criticou a nova abordagem, afirmando que a tecnologia diminui o espetáculo e a “fanfarronice” que acompanhavam os jogos. A atmosfera animada criada pelos juízes de linha, que frequentemente interagiam com o público, parece ter se dissipado.
A resposta do público e dos jogadores
Os torcedores compartilharam sentimentos semelhantes. Marie Sal, de 26 anos, mencionou a perda da “energia e do drama” que a presença dos juízes de linha proporcionava. A emoção era palpável quando um pedido de repetição em vídeo era feito, e a expectativa tomava conta das arquibancadas enquanto a imagem era exibida no telão.
No meio da controvérsia, ainda existem juízes de linha no torneio, embora em números reduzidos. Aproximadamente 80 continuam a atuar como árbitros assistentes, oferecendo suporte ao árbitro principal em cada quadra e permanecendo como backup em caso de falhas tecnológicas. Isso levanta a questão sobre o futuro desses profissionais e seu papel no cenário esportivo quando máquinas assumem funções antes desempenhadas por humanos.
Preocupações sobre o futuro do trabalho com tecnologia
Os temores não são apenas de jogadores e fãs; até mesmo jovens preocupados com suas perspectivas de trabalho se manifestaram. Gabriel Paul, de 26 anos, e Harry Robson, de 27, protestaram vestidos como juízes de linha, segurando cartazes que diziam “A IA tirou meu trabalho” e “Não deixem os humanos de lado”. “Estamos preocupados com o mercado de trabalho como um todo”, afirmou Paul, que se forma em breve.
A diretora de operações de Wimbledon, Michelle Dite, demonstrou otimismo diante da mudança. Segundo ela, a introdução do ELC foi “muito bem-sucedida”. Reconhecendo a necessidade de melhorias, ela mencionou que Wimbledon está comprometido em revisar e monitorar o sistema continuamente, assim como se faz com outros aspectos do torneio.
Se essa mudança será benéfica ou prejudicial para o futuro do tênis e do papel dos juízes de linha é algo que ainda está sendo discutido. Contudo, a paixão e a dedicação dos fãs e jogadores servem como lembretes de que, enquanto a tecnologia avança, as tradições que tornaram eventos como Wimbledon especiais não podem ser esquecidas.