Brasil, 3 de julho de 2025
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Prada e o furto cultural das kolhapuris na passarela

Fashion brands replicam itens tradicionais indianos sem reconhecer sua origem, apagando histórias e deixando artesãos de fora.

Nesta semana, o mundo da moda foi surpreendido por uma peça que remete às tradicionais kolhapuris de Maharashtra, usadas há gerações por artesãos locais. Durante o desfile de alta-costura da Prada, em Milão, apareceu um par de sandálias minimalistas, de couro, com design que lembra fortemente as famosas chappals fabricadas na Índia, mas sem qualquer menção à origem ou reconhecimento da cultura de onde surgiram.

O que são as kolhapuris e por que elas importam

As kolhapuris, ou chappals de Kolhapur, são calçados artesanais feitos à mão por artesãos de Maharashtra, há décadas reconhecidos por sua qualidade e tradição. Utilizando couro de búfalo, costurado manualmente, esses sapatos podem levar até duas semanas para serem produzidos e possuem uma indiscutível marca cultural, inclusive com registro de Indicação Geográfica de 2019.

Apesar de serem um símbolo de identidade regional, essas sandálias tradicionalmente carregam histórias e técnicas que refletem a cultura popular e o modo de vida de comunidades específicas, que durante anos sustentaram sua produção artesanal com orgulho.

O impacto do apropriação cultural na moda de luxo

Quando marcas globais como a Prada incluem elementos de culturas locais sem o devido crédito, não apenas se apropriam de um símbolo estético, mas silenciosamente apagando sua história. Como apontou a stylist Anaita Shroff Adajania, as sandálias da coleção masculina da Prada, apelidadas de “toe ring sandals”, custam mais de US$ 1 mil — equivalentes a várias pares autênticos de kolhapuris feitos por artesãos no Brasil ou na Índia.

Essa prática gera uma série de questionamentos éticos. Por que reproduzir itens tradicionais sem reconhecer sua origem? E qual o efeito dessa apropriação na valorização cultural e econômica dessas comunidades? Enquanto as marcas globale tiram proveito de estilos tradicionais, os artesãos locais ficam invisíveis, e suas histórias, silenciadas.

O silêncio das marcas e o valor da autenticidade

Embora não seja uma violação direta, a ausência de crédito ou menção às comunidades de origem reforça uma narrativa distorcida, onde a cultura é apenas uma inspiração estética, sem reconhecimento. Segundo especialistas, isso contribui para o apagamento de identidades culturais, além de afetar a economia e o reconhecimento dos artesãos.

Já houve reconhecimento oficial, como o registro de Indicação Geográfica das kolhapuris, que limita o uso de nomes similares por concorrentes. Mas, na prática, a luta continua na luta contra a apropriação e o anonimato das origens dessas peças.

Por que essa discussão importa

Este episódio evidencia uma questão maior: até que ponto estamos dispostos a valorizar a cultura local? Quando um estilo tradicional é reproduzido e vendido por preços exorbitantes sem salvaguardas ou consideração pela origem, há um problema de respeito e autenticidade.

De acordo com especialistas em direitos culturais, é fundamental que marcas de moda reconheçam suas fontes, homenageando realidades específicas e contribuindo para a valorização das comunidades que sustentam essas tradições. Porque, no fundo, moda também é cultura, história e identidade, e tudo isso merece respeito.

O que podemos fazer

Garantir uma representatividade justa e reconhecer o trabalho artesanal requer diálogo, ética e ações concretas. Artistas, consumidores e marcas precisam promover uma valorização consciente e responsável, respeitando o legado dos povos que criaram essas peças.

Se a moda deseja realmente inspirar, que o faça com respeito e orgulho pela cultura de onde veio — e, sobretudo, dando crédito a quem faz a história por trás das estilizações.

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