Nos últimos anos, o Brasil tem visto o crescimento de um movimento cultural que reforça o orgulho rural, impulsionado por artistas como a dupla Us Agroboy. Com forte presença nas redes sociais, eles se apresentam como símbolos do setor agrícola brasileiro, promovendo uma visão positiva e idealizada do agro nacional.
O fenômeno do agronejo e o fortalecimento da identidade rural
O agronejo, um gênero que combina sertanejo tradicional com influências modernas como o pop e o funk, revelou-se um sucesso nas plataformas digitais. O videoclipe do Us Agroboy, com mais de oito milhões de visualizações no YouTube, celebra o sucesso de fazendeiros e produtos do campo, sendo visto por milhões como uma homenagem à cultura rural.
Segundo a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), apoiar manifestações culturais relacionadas ao agro é uma estratégia legítima para fortalecer a identidade brasileira. “O setor agrícola está profundamente ligado à cultura do país”, afirma a entidade. O próprio setor tem investido na parceria com artistas e na promoção de eventos, reforçando uma narrativa otimista e de prosperidade.
Celebrando o setor, mas ignorando os impactos ambientais
Apesar do entusiasmo e do crescimento do agronejo, críticos veem as produções culturais como uma curadoria ideológica que minimiza as consequências sociais e ambientais da agricultura. Debora Salles, do NetLab, alerta que essa narrativa apresenta uma versão altamente idealizada, que tende a esconder problemas como o desmatamento e a degradação do meio ambiente.
Enquanto o Brasil se prepara para a conferência climática COP30, especialistas destacam a importância de se compreender como produções culturais como o agronejo moldam percepções públicas em favor de interesses econômicos poderosos, mesmo diante de evidências de que a agricultura é uma das principais responsáveis pelas mudanças climáticas.
Influenciadores e a batalha pela imagem do setor
Influenciadores agrícolas, como Camila Telles, vêm usando suas plataformas para defender o setor e combater o que eles chamam de desinformação. Telles, que é fazendeira de terceira geração, afirma que suas postagens destacam a potência do agro brasileiro, embora seja citada em relatórios de desinformação por divulgar opiniões consideradas enviesadas.
Ela e outros produtores organizam, inclusive, ações paralelas à COP30, promovendo a “COP do Agro” como palco para defender quem produz, contestando a tese de que o setor é uma vilão das mudanças climáticas. Telles reforça a ideia de que o setor agrícola deve estar presente como protagonista na discussão global.
O impacto climático da agricultura brasileira
O Brasil é o sexto maior emissor mundial de gases de efeito estufa, com cerca de dois terços das emissões relacionadas ao desmatamento e às mudanças no uso da terra, principalmente pelo setor agrícola. Cientistas alertam que a destruição de áreas florestais libera o carbono absorvido pelas árvores, agravando o aquecimento global.
Apesar disso, a narrativa predominante no setor reforça a importância econômica do agro, que representa aproximadamente 22% do Produto Interno Bruto nacional, e sua relevância para a geração de empregos. No entanto, a abordagem cultural muitas vezes negligencia os custos ambientais dessas atividades.
Perspectivas e desafios na comunicação do setor agrícola
Dados de pesquisas recentes indicam que ainda há resistência por parte do público, especialmente entre os jovens, ao setor do agronegócio, que muitas vezes é retratado de forma negativa na mídia. As redes sociais se tornaram arenas de batalha ideológica, onde produtores e influenciadores tentam consolidar uma imagem mais positiva do setor.
Para especialistas como Debora Salles, é fundamental que a comunicação seja mais transparente e equilibrada, abordando tanto os avanços quanto os desafios ambientais e sociais do agronegócio brasileiro. Assim, será possível promover uma discussão mais consciente sobre o papel do setor na construção do futuro sustentável do país.
Para ler mais sobre o tema, acesse: Fonte BBC.
