Quando percebi que um jovem tinha vandalizado minha Tesla com um adesivo ofensivo, meu primeiro instinto foi de surpresa e raiva. No entanto, ao confrontá-lo, descobri uma conexão inesperada que me fez repensar o poder da empatia em momentos de conflito.
O momento de confronto com o adolescente
“Você riscou meu carro?” perguntei, observando o menino, com cabelo curto e unhas com esmalte lascado, vestindo uma camiseta do Pussy Riot e calças largas. Ele negou, dizendo que apenas colocou um adesivo na traseira do veículo.
Ao se ajoelhar para remover o adesivo, que exibia uma suástica, senti uma mistura de frustração e tristeza. “Comprei este carro pensando que fazia uma escolha consciente, por ser um símbolo de responsabilidade ambiental”, expliquei, enquanto ele tentava tirar a etiqueta, que se mostrava bastante resistente.
A reflexão sobre a vulnerabilidade e o sentimento de impotência
Enquanto observava o jovem, lembrei de uma crise pessoal recente: uma conta indevida no cartão de crédito que desencadeou uma explosão de raiva na ligação com o atendente. Nessa hora, percebi que minha fúria tinha raízes mais profundas – o medo de perder o controle diante de notícias devastadoras, como a doença terminal do meu parceiro.
Naquele instante, compreendi que ambos, eu e o garoto, estávamos carregando sentimentos de impotência e frustração diante de um mundo que parece estar desmoronando. Seu gesto não era só vandalismo, mas uma expressão de angústia e sensação de desamparo diante de um futuro incerto.
O poder da empatia naqueles momentos
Olhei para ele, que parecia assustado e arrependido, e perguntei: “O que está acontecendo?” Mesma sensação de vulnerabilidade que ele carregava, eu também compartilhava, ainda que de formas diferentes.
Quando ele perguntou se poderia me dar um abraço, aceitei. Nossos corpos se enlaçaram e senti uma conexão profunda que ultrapassava as palavras. Ele se desculpou e, ao se afastar, percebi que aquele momento de desentendimento tinha se transformado em algo maior: uma oportunidade de compreensão mútua.
Reflexões sobre conflitos e compreensões futuras
Ao deixar o local, meu coração estava mais leve, e compreendi que, embora não condone o que foi feito, entendia o sofrimento que levou o jovem a agir assim. Discutimos nossas frustrações, a busca por mudanças mais compassivas e o poder de escutar além das palavras.
Este episódio, que começou com um vandalismo, se tornou um aprendizado: na hora de confrontar diferenças, a empatia e o diálogo podem transformar o conflito em conexão. Espero que, no futuro, possa criar mais momentos assim, ouvindo antes de julgar, e caminhando na direção de uma maior compreensão entre as pessoas, dentro ou fora da minha ‘bolha’.
Katarina Wong é artista, escritora e diretora espiritual, morando em Santa Fé, Novo México. Autora da newsletter Três Fios, explora criatividade e espiritualidade. Conheça seu trabalho nas redes sociais: Instagram e Bluesky.