O ministro Jorge Messias, à frente da Advocacia-Geral da União (AGU), se vê em uma du dupla estratégia no atual governo: por um lado, precisa lidar com questões jurídicas, como a tentativa de manter o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e por outro, está engajado em estreitar laços com o segmento evangélico. Embora essa aproximação seja crucial, ela também enfrenta desafios e críticas, tanto de líderes religiosos quanto de membros do governo.
Ações de Messias para construir pontes
Messias vem participando ativamente de eventos voltados para a comunidade evangélica, como a Marcha para Jesus. O ministro tem se reunido com pastores e investido em publicações nas redes sociais para promover uma imagem próxima desse grupo. Neste ano, recebeu representantes de diversas denominações protestantes, incluindo a Assembleia de Deus, Batista e Presbiteriana. Além disso, ele tem contribuído para campanhas publicitárias do Partido dos Trabalhadores (PT) voltadas para o público cristão, buscando destacar valores familiares em iniciativas do governo, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Presença nas redes sociais
Aos domingos, Messias publica vídeos nas redes sociais onde lê salmos e deseja uma “semana muito abençoada”. Como membro da Igreja Batista, ele se tornou uma figura central em iniciativas voltadas para evangélicos, como o curso Fé e Democracia promovido pelo PT. Em quase todas as aulas, Messias foi mencionado como um agente chave na construção de pontes entre o governo e o setor religioso. Contudo, sua comunicação foi criticada por não ter um impacto significativo, levando a uma desconexão entre suas ações e as expectativas do governo.
Desafios enfrentados na interlocução com evangélicos
Desde que começou seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem buscado melhorar a interação com a comunidade evangélica, considerada uma das mais resistentes ao governo. Apesar de ter determinado campanhas publicitárias e mobilizar auxiliares com bom trânsito entre os religiosos, muitos identificam uma distância do presidente em relação às lideranças mais próximas das bases. Essas lideranças são vitais, pois influenciam diretamente a opinião dos fiéis.
Segundo o Censo de 2022, 26,9% da população brasileira é evangélica, totalizando cerca de 56 milhões de pessoas. Durante as eleições de 2018 e 2022, aproximadamente 80% desse público votou em Jair Bolsonaro. Um levantamento recente da Quaest revela que a taxa de desaprovação ao governo entre evangélicos atinge 66%, superando a média nacional de 57%. Isso indica um cenário complicado para Messias e sua equipe, já que as críticas estão aumentando.
Tensões e rejeições ideológicas
Líderes evangélicos têm expressado que, apesar da necessidade de diálogo, há uma resistência significativa devido a questões que contrariam seus princípios religiosos. Apóstolo Estevam Hernandes, da Igreja Renascer em Cristo, enfatiza que o governo enfrenta dificuldades, especialmente em relação à sua postura em assuntos que dizem respeito a Israel. O pastor Robson Rodovalho, da Igreja Sara Nossa Terra, reforçou que a atuação de Messias, embora pessoal, não se traduz em melhorias para a administração de Lula.
Além disso, eventos como a suspensão da isenção tributária sobre os salários de pastores pela Receita Federal no ano passado geraram grande descontentamento entre líderes religiosos. Embora a AGU tenha participado das discussões sobre este tema, não houve progresso até o momento, o que contribui para o distanciamento entre o governo e o segmento evangélico.
Em busca de uma agenda comum
Apesar das barreiras ideológicas e das críticas, o foco de Messias parece ser minimizar as tensões e buscar temas de interesse mútuo, como geração de renda e desenvolvimento econômico. O pastor Cesário Silva, membro do PT e do Conselho de Participação Social, salientou que seu trabalho é importante para tentar angariar apoio dentro do segmento evangélico. “Isso é muito importante”, pondera.
Conforme avança o diálogo entre o governo e os evangélicos, será essencial que as ações do ministro Jorge Messias sejam percebidas como genuínas e não apenas como uma estratégia política. A construção de um relacionamento de confiança com esse grupo pode ser o caminho para mitigar as resistências atuais e abrir novas possibilidades de diálogo no futuro.