A Copa de Clubes tem proporcionado aos torcedores a oportunidade de entender melhor a dinâmica do futebol mundial. Uma das conclusões mais evidentes é a de que há mais de uma Europa no futebol — e que o futebol português não se destaca entre os principais. Apesar de a seleção nacional contar com uma das melhores gerações de atletas da sua história e o sucesso no treinamento de goleiros, o cenário do futebol local é preocupante.
A crise do futebol português nas competições internacionais
A última edição do Mundial de Clubes expôs as fragilidades dos times portugueses. O Porto, por exemplo, foi eliminado da competição sem conquistar uma única vitória. O Benfica, por sua vez, teve uma despedida amarga nas oitavas de final, sendo goleado pelo Chelsea. Ao todo, os clubes portugueses venceram apenas um dos cinco confrontos que tiveram contra equipes não europeias, e esse triunfo foi contra o semiamador Auckland City, da Nova Zelândia.
Outro ponto importante é a eliminação do Sporting, atual bicampeão nacional, que ficou fora da competição devido aos critérios de classificação definidos pela FIFA. Tais critérios consideram o desempenho em competições continentais dos últimos quatro anos, e isso destacou ainda mais a crise do futebol português, que aparece muitas vezes como uma sombra dos grandes times europeus.
Estatísticas que falam mais que palavras
Desde a conquista da Champions League pelo Porto em 2004, nenhum clube português conseguiu ultrapassar as quartas de final deste prestigiado torneio. Na Liga Europa, o Benfica foi vice-campeão em 2013 e 2014, mas, desde então, a situação não melhorou. Além disso, na recente Liga Conferência, as equipes de Portugal não conseguiram chegar às fases decisivas, reforçando a ideia de que o futebol português alcançou um “teto” em termos de competitividade.
A análise do cenário do futebol português revela também que a concentração de receitas nas mãos de poucos clubes afeta a formação de elencos e a competitividade. A maioria das receitas está concentrada em Benfica, Porto e Sporting, o que transforma qualquer tentativa de crescimento em um desafio complexo.
Desigualdade e futuro incerto
Com a esmagadora maioria da receita do futebol nacional gerada por apenas três clubes, as outras equipes enfrentam dificuldades para competir. Desde a vitória do Boavista na liga nacional em 2001, somente uma vez outra equipe, o Braga, conseguiu terminar em segundo lugar. Para tentar mitigar essa disparidade, uma nova lei nacional entrará em vigor em 2028, centralizando as negociações dos direitos de transmissão de TV, que atualmente são tratados individualmente.
No entanto, mesmo com essa mudança, o consenso é de que não há perspectivas de crescimento significativo nas receitas. Atualmente, a maior parte das receitas totais ainda provém de premiações pagas pela UEFA. A limitação do mercado se dá, em parte, pela população reduzida de Portugal e pela pequena capacidade de expansão do cenário esportivo.
Comparativo com o futebol brasileiro
Em contrapartida, o Brasil segue um caminho de crescimento consistente. As receitas do futebol brasileiro já superaram as de Portugal, o que, ironicamente, atrai diversos treinadores portugueses para o país. O futebol brasileiro é visto como mais forte devido à maior variedade de clubes com potencial de receita e um sistema de distribuição de renda mais equilibrado. Economistas do setor preveem um crescimento gradual, de 5% a 6% ao ano, nas receitas do futebol brasileiro.
Enquanto Portugal luta contra um mercado estagnado, com 223 atletas brasileiros atuando nas três divisões do futebol português, a diferença de qualidade técnica entre os clubes dos dois países já não é tão evidente. O zagueiro Rodrigão, que teve experiência tanto no Brasil quanto em Portugal, afirma que o nível técnico está mais próximo do que se imaginava, e que o calendário competitivo brasileiro pode ser um fator que prejudica o desempenho dos clubes devido à carga excessiva de jogos.
O Mundial de Clubes e os resultados adversos dos clubes portugueses evidenciam não apenas um problema regional, mas traçam um paralelo com a ascensão do futebol brasileiro, que, apesar dos desafios, parece estar em um trajeto de crescimento ascendente, enquanto Portugal se vê preso a um ciclo de limitações e dificuldades.