Dados inéditos da Escola de Comunicação da FGV apontam que, desde 2019, denúncias sobre descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS já eram divulgadas na internet, mas sem reação efetiva do poder público. O esquema, investigado pela Operação Sem Desconto, revela um problema que atravessa governos e que, mesmo denunciado por diversos canais, permaneceu sem intervenção decisiva até a ação da Polícia Federal e da CGU em 2025.
Denúncias antigas e a inércia do poder público
Com o apoio de inteligência artificial, pesquisadores analisaram 152 mil vídeos no YouTube, identificando 108 materiais entre janeiro de 2019 e março de 2025, que abordam fraudes e formas de cancelar descontos ilegais feitos por associações suspeitas. Essas produções acumulam cerca de 750 mil visualizações, com aumento expressivo de buscas e atenção em 2024, sobretudo no auge das operações oficiais.
O rastro digital das fraudes na internet
Desde 2019, mais de 142 mil buscas no Google Trends e 30 mil reclamações no Reclame Aqui evidenciam a disseminação de informações e queixas referentes às cobranças indevidas. Ainda, mais de 10 mil processos foram registrados na plataforma Jusbrasil, demonstrando a forte movimentação jurídica contra os esquemas de descontos ilegais.
Suspeitas de negligência e omissão
Segundo Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV, o rastro digital revela uma lacuna na atuação do Estado. “Há um problema de estrutura que não consegue antecipar ou identificar esses ilícitos, mesmo com a quantidade de denúncias”, explica. Ele destaca ainda que a ausência de sistemas eficientes de monitoramento impede a atuação preventiva e a resolução mais ágil dos casos.
Escândalo e prejuízos ao longo dos anos
Dados da Polícia Federal indicam que, entre 2019 e 2024, cerca de 4,2 milhões de aposentados e pensionistas foram vítimas de cobranças ilegais, com mais de R$ 6 bilhões desviados por entidades conveniadas ao INSS, muitas delas ligadas ao PT, como a Contag. Apesar da gravidade, o esquema só foi desvendado após a operação da CGU, que resultou na exoneração do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e na prisão de operadores do esquema, como o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes.
Perfil dos influenciadores e impactos na sociedade
Vários canais no YouTube, como “Benefícios INSS” e “João Financeira”, abordaram o tema com vídeos desde 2024, alertando aposentados sobre fraudes, como descontos de valores sem assinatura de contrato ou autorização. Muitos desses vídeos revelam o grau de desconhecimento e desinformação da população, além de refletir uma crescente angústia de segurados prejudicados.
O contato com vítimas e postura das associações investigadas
Clientes de associações suspeitas, como a União Nacional de Auxílio aos Servidores Públicos (Unaspub), relataram cobranças de valores como R$ 57,75, sem contrato assinado. Em nota, essas entidades reafirmaram seu compromisso com a legalidade e a ética, embora a investigação continue apontando a continuidade dos golpes.
Perspectivas e desafios futuros
Especialistas apontam que a cultura de denúncia e o uso de tecnologia poderiam ter evitado ou minimizado o impacto das fraudes. “O maior problema está na compreensão de que o debate na internet pode ser uma ferramenta de política pública e fiscalização”, avalia Marco Aurélio Ruediger. Ainda assim, a falta de mecanismos eficientes de controle e fiscalização, combinada com a persistência de fraudes, revela uma vulnerabilidade do sistema previdenciário brasileiro.
Com a operação em andamento, há esperança de que novas ações possam restringir as atividades dessas associações e proteger os direitos dos aposentados. A expectativa é que, após as investigações, o INSS implemente sistemas de monitoramento mais rígidos para evitar a repetição de episódios semelhantes.
Para quem suspeita de descontos indevidos, especialistas recomendam verificar mensalmente o extrato do benefício e procurar o INSS imediatamente caso identifiquem irregularidades, reforçando a importância da denúncia rápida para evitar prejuízos maiores.