A Polícia Federal (PF) dará continuidade a uma investigação envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu círculo próximo. Na próxima terça-feira, a PF ouvirá dois advogados de Bolsonaro, Paulo Costa Bueno e Eduardo Kuntz, além do ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten. O foco da investigação são mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, um dos principais delatores na trama golpista que buscava manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições.
A investigação e os depoimentos
Os depoimentos ocorrerão simultaneamente na Superintendência da PF em São Paulo, conforme determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O advogado Eduardo Kuntz, que representa o coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, é uma das figuras centrais na investigação.
Vale lembrar que, no último dia 17, Kuntz notificou o STF de uma conversa que manteve com Cid via Instagram sobre sua delação premiada — um ato que, se confirmado, configuraria uma violação do sigilo do acordo. Durante um depoimento na terça-feira, Cid negou ter utilizado um perfil no Instagram para discutir detalhes de sua delação, o que levanta questões sobre a veracidade das informações que estão sendo investigadas.
As revelações e as implicações legais
No início de junho, o advogado Celso Vilardi, que está na defesa de Bolsonaro, questionou Cid sobre se ele havia discutido a delação com outras pessoas nas redes sociais. Cid negou essa afirmação, mas sua defesa argumenta que esforços estão sendo feitos para obstruir a investigação, considerando os contatos que Kuntz e Wajngarten teriam tentado estabelecer com ele e familiares.
Dias após essas interações, a revista Veja publicou mensagens atribuídas ao perfil “GabrielaR702”, reforçando a necessidade de uma investigação mais profunda. Cid, por sua vez, negou ser o autor das mensagens e pediu que a conta fosse investigada. O ministro Moraes atendeu ao pedido e solicitou que a Meta, empresa controladora do Instagram, enviasse os dados relevantes ao caso.
A possível obstrução de Justiça e suas consequências
Após a entrega das mensagens ao STF, Moraes determinou a prisão de Câmara e abriu investigações sobre Kuntz e outros envolvidos, sob a suspeita de obstrução de Justiça. Em sua decisão, Moraes ressaltou a gravidade das condutas noticiadas, que indicam uma possível tentativa de interferir na investigação.
O que se observa é um entrelaçamento de relações interpessoais e legais que pode ter implicações sérias para todos os envolvidos no caso, incluindo o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro. Informações indicam que Kuntz e Wajngarten tentaram contatar Cid por intermédio de sua filha menor de idade e de sua esposa, o que levantou ainda mais preocupações sobre interferências externas.
Reação dos envolvidos
Wajngarten, por meio de sua conta na rede social X, expressou estar tranquilo em relação ao depoimento, mas também levantou críticas sobre o tratamento dado à advocacia no contexto da investigação, sugerindo que a criminalização da profissão é uma forma de ofuscar a “falta de voluntariedade” do delator Cid. Sua fala reflete um sentimento de indignação não apenas em relação às ações do STF, mas também ao impacto que isso pode ter sobre o trabalho dos advogados envolvidos.
O contexto político e suas repercussões
À medida que a investigação avança, o cenário político no Brasil se complica ainda mais. O caso não só envolve personalidades políticas de destaque, mas também gera reflexões sobre os limites entre a advocacia, a justiça e a política. A questão da obstrução de Justiça, se confirmada, poderá ter desdobramentos significativos nas esferas legal e política, trazendo novas demandas e questionamentos sobre a conduta de todos os envolvidos.
Com os depoimentos programados e a investigação em curso, a expectativa é que novas informações surjam, potencialmente esclarecendo o papel de cada figura dentro deste complexo emaranhado de relações e atos ilícitos que permeiam o cenário político brasileiro nos dias de hoje.