O deputado Chris Coghlan, do Partido Liberal Democrata, denunciou publicamente que seu sacerdote se recusou a lhe conceder a Comunhão após votar a favor do projeto de eutanásia no Reino Unido. A controvérsia ocorreu no domingo (29), após o parlamentar apoiar a legislação considerada polêmica por líderes religiosos.
Repercussões do voto e a recusa de comunhão
Antes de votar, o padre Ian Vane, pároco da Igreja de São José, em Dorking, Surrey, advertiu Coghlan de que a sua posição favorável ao projeto poderia ser interpretada como “perseverar obstinadamente no pecado”. Segundo relatos, o sacerdote mencionou o deputado do púlpito dois dias após a votação, em 20 de junho, e posteriormente se recusou a administrar a Santa Comunhão ao parlamentar, classificando a atitude como “completamente inadequada”.
Coghlan classificou a atitude do padre como “absurdamente inapropriada” e afirmou que a recusa prejudica a legitimidade da relação entre Igreja e comunidade. Ele utilizou suas redes sociais para denunciar a situação, alegando que a atitude “levanta um grave interesse público” e representa uma “falta de respeito” às suas famílias, seus eleitores e ao processo democrático.
Reações e posições oficiais
A denúncia gerou forte repercussão nas redes sociais, com defensores da Igreja Católica argumentando que a posição do padre estaria em consonância com a doutrina da Igreja, que condena o apoio a leis que atentam contra a vida humana. O Vatican mantém uma orientação clara na matéria: “uma consciência cristã bem formada não permite votar a favor de leis ou programas políticos que contradigam os conteúdos fundamentais da fé e da moral”, destaca a Nota Doutrinal sobre a Participação dos Católicos na Vida Pública.
Além disso, a Diocese de Arundel e Brighton reforçou a posição oficial, lembrando que a Igreja defende a “santidade da vida e a dignidade de toda pessoa”. O bispo Richard Moth afirmou ter conversado com Coghlan e se colocou à disposição para um encontro pessoal, buscando esclarecer os aspectos envolvidos na controvérsia.
Alerta de líderes religiosos sobre as consequências do projeto
O episódio ocorre em um momento de forte preocupação de religiosos com a legislação de auxílio à morte aprovada na Câmara dos Comuns. O arcebispo John Sherrington, líder para assuntos relacionados à vida na Conferência dos Bispos do Reino Unido, declarou estar “chocado e decepcionado” com a aprovação do projeto, alertando que a legislação poderia alterar a cultura de cuidados de saúde e gerar receios entre grupos vulneráveis.
O cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster, também advertiu que muitos hospitais religiosos poderiam ser forçados a fechar se a lei for implementada, por executarem procedimentos contrários à sua doutrina. A lei ainda precisa passar pelo Senado, a Câmara dos Lordes, que pode propor alterações, embora seja provável sua aprovação, dada a maioria no Parlamento.
Perspectivas futuras e impacto na Igreja e na legislação
Especialistas e líderes religiosos qualificam o episódio como um reflexo das tensões entre fé, ética e política na legislação vigente. A controvérsia evidencia o delicado equilíbrio entre os direitos civis e os princípios morais defendidos pela Igreja Católica no Reino Unido, sobretudo em questões sensíveis como a proteção da vida.