Durante uma audiência na Câmara dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr. sugeriu que todos os americanos usem dispositivos vestíveis para acompanhar sua saúde. Embora ainda não seja uma obrigação, a iniciativa provoca debates sobre a segurança e privacidade dos dados.
Projeto de RFK Jr. de incentivar o uso de dispositivos de rastreamento de saúde
RFK Jr. afirmou que o uso de wearables, como Apple Watches, Fitbits, Oura Rings e monitores de glicose, pode ajudar as pessoas a controlarem sua saúde e tomarem decisões mais informadas, monitorando níveis de açúcar no sangue, frequência cardíaca e outros indicadores. Segundo a revista Politico, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) planeja lançar uma campanha para promover o uso desses dispositivos.
Embora ainda seja uma recomendação, a iniciativa levanta dúvidas sobre o que pode acontecer com os dados coletados. “Não há indicação de que o governo vá coletar essas informações”, explica Alex Hamerstone, diretor de soluções de consultoria na TrustedSec. No entanto, ele alerta que o governo já possui acesso a dados de saúde via programas como Medicare e Medicaid.
Riscos de privacidade e segurança dos dados de saúde
Valor e vulnerabilidades dos dados de saúde
Especialistas destacam que os dados de saúde, especialmente os coletados por wearables, possuem um valor diferenciado. “Seus dados de saúde podem impactar seguros e outros aspectos da sua vida”, afirma Hamerstone. Além disso, esses dados não são protegidos pelas mesmas regras que registros médicos tradicionais, como pela HIPAA, podendo ser vendidos ou compartilhados por empresas.
Problemas de segurança e incidentes anteriores
Kevin Johnson, CEO da Secure Ideas, aponta que há históricos de falhas de segurança, como o vazamento de localização de soldados relacionado ao app Strava em 2018. “Os dispositivos têm vulnerabilidades e podem ser acessados por invasores”, alerta Johnson, que também critica a falta de proteção adequada por parte das empresas e do governo contra ataques ou violações.
Impactos pessoais e implicações futuras
Johnson ressalta que muitos pensam que “é só meu ritmo cardíaco”, mas os dados coletados são muito mais sensíveis, incluindo localização, histórico de saúde reprodutiva e padrões de sono. Esses dados, se caírem nas mãos erradas, podem afetar desde a privacidade até questões de seguro ou crédito.
Outro ponto de preocupação está na ausência de proteção legal igual à de registros médicos tradicionais. “Dados de wearables, mesmo que prometam privacidade, podem ser compartilhados ou vendidos, muitas vezes sem o conhecimento do usuário”, explica Chronister, CEO da Parameter Security.
Recomendações para usuários de wearables
Para quem opta por usar esses dispositivos, a recomendação é revisar e ajustar regularmente as configurações de privacidade e usar senhas fortes. Contudo, a segurança total é difícil de garantir, pois as vulnerabilidades podem ocorrer nos servidores, nas conexões ou até mesmo com dispositivos perdidos ou roubados.
Especialistas alertam que as questões não envolvem apenas o risco de ataques individuais, mas também a possibilidade de o governo ou empresas construírem perfis detalhados a partir de múltiplas fontes de dados ao longo do tempo, criando um retrato extremamente pessoal da saúde e dos hábitos dos indivíduos.
Reflexões finais sobre o uso de wearables e privacidade
Hamerstone destaca que, mesmo sem intenção direta de coleta governamental, há riscos significativos na disseminação dessas informações, que podem ser usadas para fins comerciais ou discricionários. Assim, é fundamental que os usuários estejam conscientes dos riscos ao decidir adotar essas tecnologias.
Todos devem considerar as implicações de compartilhar dados de saúde, bem como as limitações das proteções legais existentes. A transparência das empresas e a segurança dos sistemas continuam sendo desafios críticos na era digital.