Os depoimentos do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, e do ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, no Supremo Tribunal Federal (STF) foram marcados por momentos de tensão. O clima pesado foi fomentado pela disputa entre a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e o gabinete do ministro Dias Toffoli, relator do caso. A situação se tornou ainda mais caótica antes mesmo do início da audiência, trazendo à tona questões sobre a condução do processo.
Conflitos iniciais e diretrizes da audiência
Antes de os depoimentos começarem, ocorreu um primeiro embate entre os delegados da PF e os procuradores da República ao discutir o rito que deveria ser adotado durante a audiência. A divergência surgiu porque, na véspera, o gabinete do ministro Toffoli havia informado que os depoimentos ocorreria primeiro, seguido, se necessário, de uma acareação. No entanto, não havia despacho formal no processo que determinasse a realização dessas oitivas, deixando todos os envolvidos em um estado de incerteza.
A delegada Janaina Palazzo, encarregada de conduzir os depoimentos, deixou claro que só tinha autorização para a acareação, o que gerou a preocupação de que a defesa de Vorcaro pudesse usar essa falta de formalidade para questionar a validade do processo. Para contornar a situação, o juiz auxiliar Carlos Vieira von Adamek precisou entrar em contato com Dias Toffoli, que acompanhava a audiência de maneira remota. O ministro acabou autorizando as coletas de depoimentos oralmente, mas foi registrado que essa mudança de orientação havia ocorrido. Esse momento só aumentou a carga de tensão no tribunal.
A complexidade dos depoimentos
Com os impasses resolvidos, iniciaram-se os depoimentos. No entanto, após algumas perguntas iniciais feitas pela delegada, a tensão ressurgiu quando Adamek passou para ela uma lista com outras perguntas que haviam sido preparadas por Toffoli para serem feitas a Vorcaro, Aquino e Costa. As 82 questões impressas incluíam 21 relacionadas diretamente à atuação do Banco Central, levantando questões críticas sobre o desempenho do órgão regulador durante as investigações das fraudes atribuídas ao Banco Master.
Questionamentos sobre a atuação do Banco Central
Dentre as perguntas que Vorcaro deveria responder, uma destacava-se: se o presidente do Banco Central agiu com a “celeridade necessária” durante as investigações das fraudes. Tal questão exemplifica a relevância e a gravidade do caso que ainda está em desenvolvimento. No entanto, a delegada afirmou que não poderia fazer perguntas que não fossem elaboradas por ela, desencadeando mais uma discussão a respeito da legitimidade das questões a serem levantadas.
Frente à insistência de Adamek e o pedido de registro das perguntas do ministro Toffoli, as permissões foram finalmente concedidas. Apesar disso, ainda havia um clima de insatisfação, especialmente após a divulgação pública das perguntas, que gerou uma nova discussão e trouxe à tona a desconfiança sobre possíveis vazamentos. O clima tenso da audiência ficou ainda mais visível quando se considerou que as perguntas destinadas ao diretor do Banco Central, Ailton Aquino, não foram sequer utilizadas.
Desfecho da audiência e implicações futuras
Ao final do dia, o embate entre Vorcaro e Paulo Henrique Costa continuou até por volta das 21h. Com a audiência marcada por instantes de alta tensão e perguntas que poderiam ter implicações diretas sobre as investigações e a reputação das instituições envolvidas, o resultado dessa audiência permanece em aberto e suscita perguntas sobre a condução da justiça e o papel das autoridades reguladoras no Brasil.
Com os desdobramentos contínuos do caso, o ambiente jurídico e político em torno do Banco Master e de sua alta cúpula permanece tenso e repleto de incertezas. O desenrolar dessa situação pode resultar em novas investigações, ou mesmo em mudanças significativas na forma como as autoridades reguladoras atuam e fiscalizam instituições financeiras no Brasil.



