Os Correios estimam necessidade de mais R$ 8 bilhões em recursos para 2026, conforme divulgação do plano de reestruturação que inclui corte de 15 mil empregos e fechamento de mil agências. A medida visa garantir a sobrevivência financeira da estatal frente a uma crise que acumula prejuízos há 12 trimestres consecutivos.
Adiamento de precatórios e impacto nos custos
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) autorizou o adiamento e parcelamento do pagamento de R$ 702 milhões em precatórios trabalhistas, que deveriam ser quitados até 31 de dezembro de 2025. A decisão, tomada pelo presidente do tribunal, Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, ocorreu horas antes do julgamento sobre o dissídio coletivo entre Correios e trabalhadores.
Segundo o presidente do TST, a suspensão por 90 dias da cobrança e o parcelamento em nove parcelas entre abril e dezembro de 2026 fazem parte das ações emergenciais para evitar prejuízos irreparáveis à companhia. O valor total previsto para os precatórios de 2026, inicialmente de R$ 1,2 bilhão, deve subir para R$ 1,9 bilhão com os adiamentos.
Crise financeira e medidas de contenção
O plano de reestruturação prevê uma redução de R$ 2 bilhões nos custos com pessoal, incluindo a venda de imóveis e o fechamento de mil unidades — atualmente cerca de 5 mil agências operam na rede. Além disso, será implementado um programa de demissão voluntária (PDV), visando reduzir a folha de pagamentos em 18%, ou seja, cerca de 15 mil funções.
“O modelo econômico-financeiro deixou de ser viável”, declarou Emmanoel Rondon, presidente dos Correios, reforçando que o objetivo é reverter prejuízos acumulados e recuperar a saúde financeira da estatal até 2027.
Diferenças no acordo com trabalhadores e reajustes
O Tribunal decidiu que os Correios pagarão reajuste salarial de 5,1%, retroativo a 1º de agosto de 2025, bem como uma gratificação de 70% sobre as férias e o pagamento de hora extra em 200%, direitos que divergi ram das propostas iniciais dos funcionários. A decisão também assegura que os pontos eletrônicos só serão utilizados para horas extras, mantendo o pagamento de oito horas diárias independentemente de saída antecipada.
O impasse no acordo coletivo, resolvido na terça-feira (30), trouxe ainda um reajuste salarial que, embora inferior ao pleito inicial de 14%, atende à recomposição por inflação, e manteve a gratificação de férias já existente em acordos anteriores.
Plano de reestruturação e geração de receitas
Para equilibrar suas contas, os Correios pretendem vender R$ 1,5 bilhão em imóveis não essenciais e reformular o plano de saúde, com economia prevista de R$ 500 milhões ao ano. Atualmente, a receita da estatal para 2024 foi de R$ 18,9 bilhões, ligeiramente menor que a de 2023 — R$ 19,2 bilhões — e com prejuízos que atingiram R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025.
O presidente Rondon reforçou a urgência de ajustes para evitar um prejuízo de até R$ 23 bilhões em 2026, e apontou estratégias para ampliar receitas até 2027, com metas de alcançar R$ 21 bilhões. Entre elas, estão investimentos de R$ 4,4 bilhões até 2030, obtidos por meio de empréstimos internacionais, como do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, com recursos destinados à modernização de centros de tratamento, frota e logística.
Captação de recursos e endividamento
Na terça-feira (30), os Correios receberam R$ 10 bilhões de um empréstimo de R$ 12 bilhões negociado com bancos públicos e privados, incluindo Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander. Com garantia do Tesouro Nacional, o contrato prevê pagamento em 2040, com carência de três anos e juros de 115% do CDI.
O presidente Rondon confirmou que a estatal avalia captar mais R$ 8 bilhões por meio de novos empréstimos, diante do cenário econômico desfavorável e da recusa do Tesouro em liberar um financiamento de R$ 20 bilhões inicialmente planejado. A busca por recursos públicos ou privados permanece em análise para equilibrar as contas e apoiar o plano de reestruturação.
Segundo Rondon, as medidas visam assegurar a viabilidade da empresa e evitar o colapso financeiro, que poderia comprometer a continuidade do serviço postal no país.
Fonte: G1 Notícias


