Na última segunda-feira, o Ministério da Cultura formalizou o tombamento definitivo do edifício da antiga Repartição Central de Polícia, mais conhecido como o antigo Dops, localizado na Rua da Relação, no Centro do Rio de Janeiro. A decisão, publicada no Diário Oficial da União (DOU), acontece um mês após a aprovação do tombamento por parte do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Importância histórica e cultural do antigo Dops
O tombamento do edifício é uma importante conquista que reconhece o local não apenas por seus valores arquitetônicos, mas também por sua relevância histórica nas lutas sociais e políticas em prol da democracia brasileira. O lugar é considerado um exemplo significativo da arquitetura eclética no Brasil, refletindo um período de grandes transformações urbanas na cidade.
Um símbolo da repressão durante a ditadura militar
O prédio do antigo Dops é um dos símbolos mais impactantes da repressão política no Estado do Rio de Janeiro durante o governo militar. A proposta do governo federal prevê que este imóvel seja convertido em um centro de memória, onde serão preservadas as memórias e os relatos de um período sombrio da história brasileira.
Com a homologação do tombamento, o edifício passa a ser registrado nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes, garantindo a proteção e a valorização de sua história. Inaugurado em novembro de 1910, o prédio, concebido pelo arquiteto Heitor de Mello, foi construído durante uma fase de profundas mudanças urbanísticas implementadas pelo então prefeito Pereira Passos.
Função do antigo Dops e suas atrocidades
Durante o Século XX, o local abrigou diversos órgãos policiais responsáveis por reprimir movimentos sociais considerados como ameaças à ordem pública. Um dos principais órgãos que operou no local foi o Departamento de Ordem Política e Social do Rio de Janeiro (Dops-RJ), que funcionou durante o Estado Novo e foi mantido durante a ditadura militar.
Entre 1962 e 1975, o Dops se tornou símbolo da repressão, com registros de prisões políticas, interrogatórios e torturas. Este triste legado e suas implicações sociais são importantes para o reconhecimento histórico e cultural do edifício.
Acervos e memória coletiva
O local também é conhecido por agrupar documentação de presos políticos e acervos que refletem a intolerância do período, como o Nosso Sagrado, que era anteriormente chamado de Museu da Magia Negra. Este acervo, que contém peças apreendidas durante perseguições a religiões afro-brasileiras, foi transferido em 2020 para o Museu da República, em um gesto de reparação ao racismo religioso.
Identificação de locais de violação dos direitos humanos
O antigo Dops integra uma lista de 49 locais identificados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) como locais onde ocorreram graves violações de direitos humanos durante a ditadura, incluindo torturas, assassinatos e ocultações de corpos. Essa lista também inclui as sedes do Dops em outras cidades como Recife e Vitória, além de centros de operações em São Paulo.
A importância da memória na luta pela democracia
A preservação do antigo Dops como patrimônio histórico reforça a importância de se lembrar e discutir os impactos da repressão na sociedade brasileira. Estabelecer um centro de memória no local oferece uma oportunidade de reflexão sobre as lutas pela democracia e os direitos humanos no Brasil, incentivando futuras gerações a aprender e valorizar a liberdade conquistada ao longo da história.
O tombamento do antigo Dops é um avanço significativo no reconhecimento das lutas sociais e da construção da memória coletiva brasileira. Ao transformar um espaço de dor em um centro de memória e aprendizado, o Ministério da Cultura e o Iphan reafirmam seu compromisso com a defesa da democracia e dos direitos humanos.



