Brasil, 30 de dezembro de 2025
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Marolo: a fruta símbolo de resistência do Cerrado brasileiro

Em uma terra marcada pela rica biodiversidade, a fruta conhecida como marolo, ou Annona crassiflora, se destaca não apenas pelo seu sabor exótico, mas também por seu forte significado cultural. Originária do Cerrado brasileiro, essa fruta mole, cujo nome em guarani representa a própria essência de resistência do bioma, é um símbolo de identidade em Paraguaçu, Minas Gerais, e inspira tanto na culinária quanto no artesanato. O marolo é mais do que um alimento; é um ícone da cultura regional e merece visibilidade.

Ressurgimento do orgulho local

O marolo é muito querido por quem cresceu nas regiões onde ele se desenvolve naturalmente. Além de seu aroma doce e inconfundível, a fruta trouxe novamente à tona o orgulho local depois de um período em que foi quase esquecida. Mesmo tendo sido desprezada durante a era de ouro da produção de café, quando muitos pés foram arrancados, o renascimento da produção do marolo teve início na década de 1980. Esse renascimento é simbolizado pela tradicional Festa do Marolo, que celebra a fruta e suas tradições.

Carolina Ferreira, botânica e especialista na flora do Cerrado, cita: “Ser chamado de ‘maroleiro’ já foi uma ofensa, um sinônimo de caipira sem ambição. Hoje, ser maroleiro é motivo de orgulho, representando uma rica herança cultural.” O marolo não é apenas uma fruta; é um componente essencial da identidade de Paraguaçu, refletindo o batalho do povo pela preservação de suas tradições.

Características e cultivo do marolo

A árvore do marolo pode atingir de 4 a 8 metros de altura e começa a frutificar entre o quarto e o quinto ano após o plantio. Adaptada a solos ácidos e pobres em nutrientes, a fruta se desenvolve em regiões com clima tropical e solo bem drenado, locais típicos do Cerrado. Para cultivá-la, recomenda-se plantar as mudas no início da estação chuvosa, irrigando diariamente nas duas primeiras semanas e, depois, somente duas vezes por semana.

O marolo tem uma polpa amarelo-clara, espessa e macia, com um sabor que remete a frutas tropicais, mas com um toque terroso. Seu exterior é coberto por pelos marrons-avermelhados que desaparecem à medida que amadurece. As flores grandes da planta se abrem à noite e são conhecidas por sua característica termogênica, atraindo polinizadores como besouros.

Marolo na gastronomia

Versátil na cozinha, o marolo pode ser consumido in natura ou utilizado em uma variedade de receitas, como licores, doces, tortas, geleias, sucos, sorvetes e iogurtes. Em Paraguaçu, cozinheiros criativos têm transformado a fruta em verdadeiras obras-primas gastronômicas, resgatando receitas que passam de geração em geração. As delícias feitas com marolo são uma forma de perpetuar a cultura local e de mostrar ao Brasil todo a riqueza dessa fruta pouco explorada.

Benefícios nutricionais e riscos

Além do seu sabor único, o marolo é rico em nutrientes, incluindo vitaminas A, C, E e do complexo B, além de minerais como ferro, fósforo, cálcio, fibras e lipídeos. Na medicina popular, as folhas e sementes são utilizadas em infusões para tratar diversas condições, como reumatismo e patologias do couro cabeludo. Contudo, é importante ter cautela, pois algumas partes da planta podem ser tóxicas. Carolina Ferreira alerta para a necessidade de mais estudos sobre a eficácia e segurança de seu uso medicinal.

O futuro do marolo em risco

Apesar de ser uma fruta valiosa e cheia de potencial, o marolo enfrenta riscos significativos. O avanço das monoculturas e a destruição do Cerrado representam uma ameaça para sua sobrevivência. A colheita da fruta ainda ocorre de forma extrativista e informal, limitando seu potencial econômico. Entretanto, há esperança. Segundo a Universidade Federal de Lavras, o marolo possui potencial para movimentar mercados locais desde que haja incentivo à agricultura sustentável e políticas públicas que promovam sua preservação.

O marolo não é apenas uma fruta; é uma joia do Cerrado que representa a resistência, a história e a cultura brasileira. Proteger este fruto e seu ecossistema é garantir não apenas a sobrevivência de uma espécie, mas a herança viva da biodiversidade e da cultura de um povo apaixonado por suas raízes. Como destaca Carolina Ferreira: “O marolo é resistência, sabor e história em forma de fruta.”

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