No mês de outubro, uma pista de kart em Nottingham foi o palco de um dia especial de testes, onde uma dúzia de meninas acelerou em um motor de kart. Essa iniciativa faz parte de um esforço pioneiro destinado a aumentar a participação feminina no automobilismo, com a esperança de que algumas delas cheguem até a Fórmula 1, um dos esportes mais glamorosos e predominantemente masculinos do mundo.
Desigualdade de Gênero no Automobilismo
Durante décadas, a presença feminina nas competições de Fórmula 1 tem sido praticamente inexistente. A última mulher a competir em um Grande Prêmio foi a italiana Lella Lombardi, em 1976. De acordo com organizações que lutam pela paridade de gênero, a escassez de mulheres na pista está ligada à escassa exposição de meninas ao mundo do automobilismo desde cedo.
A organização sem fins lucrativos More Than Equal, que apoia pilotos mulheres, apontou que as garotas começam a praticar karting, em média, dois anos mais tarde que os meninos. Por exemplo, o heptacampeão da Fórmula 1, Lewis Hamilton, começou a pilotar aos oito anos. “Esses são os primeiros passos que uma garota pode dar”, comentou Cameron Biggs, gerente de treinamento da Motorsport UK.
Apaixonadas pelo Karting
A dinâmica do evento em Nottingham foi marcada pelo entusiasmo das participantes, que em sua maioria eram novatas. Algumas assistiram à Fórmula 1 e se sentiram inspiradas, enquanto outras foram incentivadas por seus pais. A idade não parecia ser um impeditivo, já que as jovens estavam ansiosas e excitadas para pilotar, mesmo sabendo que isso aconteceria anos antes de obterem a carteira de motorista.
A alegria foi evidente em depoimentos como o de Megan, de 11 anos, que exclamou: “Na segunda vez, eu ganhei e estou muito orgulhosa.” Outra jovem, Erin, também de 11 anos, disse: “Eu assisto Fórmula 1 com bastante frequência, então meio que sei como me mover na pista”.
O Paradoxo da Fórmula 1
A Fórmula 1 possui uma base global de fãs de cerca de 827 milhões de pessoas, um aumento de 63% desde 2018. Contudo, a modalidade é uma das únicas que não é segregada por gênero, mas ainda assim uma das mais dominadas por homens. “Sabemos que a trajetória para pilotos mulheres não conseguiu levar uma mulher para a Fórmula 1 competitivamente nos últimos 50 anos”, observou Lauren Forrow, chefe de desenvolvimento de pilotos da More Than Equal.
Ela acrescentou que isso mostra que as garotas “não estão prosperando” dentro do sistema atual. A More Than Equal se comprometeu a “fazer história” treinando uma mulher não apenas para competir, mas para vencer. No entanto, o caminho está repleto de desafios, incluindo acesso limitado ao automobilismo em idades precoces, preconceitos culturais, lacunas de patrocínio e a falta de modelos mulheres em posições de destaque.
Superando Barreiras
Para enfrentar essas barreiras, o programa de Desenvolvimento de Pilotos da More Than Equal considera diferenças fisiológicas, psicológicas e técnicas que as mulheres enfrentam, incluindo o impacto da menstruação nas capacidades atléticas. “Essas realidades informam qual é a receita certa para apoiar atletas femininas nesse espaço”, disse Forrow.
Em uma jornada de superação, jovens como Skye Parker, de quinze anos, destacam a importância de ter ídolos femininos. Ela, que começou a praticar karting aos seis anos, afirmou sua determinação em se tornar “campeã mundial da Fórmula 1”. Em um dia chuvoso de dezembro, Skye teve a oportunidade de pilotar um carro de Fórmula 4 no Circuito de Barcelona, uma experiência que ela considera uma etapa essencial para alcançar seu sonho.
Embora a quantidade de meninas esteja crescendo, Skye reconheceu que “os meninos ainda nos superam em número”. A falta de representatividade feminina na Fórmula 1 a entristece, evidenciando a necessidade de mais apoio e visibilidade para mulheres no esporte.
Apoio e Oportunidades
O alto custo do automobilismo continua sendo uma barreira significativa, como apontou Forrow. Na pista de Nottingham, Marcus McKenzie, um pai solteiro, observa sua filha Georgia, de oito anos, enquanto ela corre a 40 km/h. Ele está determinado a conseguir patrocínio para suas crianças, mostrando que o investimento é um desafio constante. Porém, para as jovens envolvidas, as preocupações financeiras são deixadas de lado. A mensagem de Thea, uma menina de oito anos, é clara: “Não tenha vergonha, seja corajosa e divirta-se”.
Essa nova geração de aspirantes a pilotos está pronta para dar os primeiros passos em direção a um futuro mais igualitário no automobilismo, e a jornada delas está apenas começando.


