Na cidade de Corupá, no norte de Santa Catarina, a produção de bananas é uma das maiores do país, com 153,1 mil toneladas colhidas em 2024, segundo o IBGE. Além de ser a terceira maior produtora da fruta, o município também é reconhecido pela banana mais doce do Brasil, afirma o INPI. Contudo, nas mãos de artesãs locais, as fibras da bananeira têm se mostrado uma alternativa de valor agregado, apesar de ainda pouco explorada.
O potencial das fibras de bananeira para a economia criativa
As fibras retiradas do interior do pseudocaule da bananeira são comparadas ao linho e à seda pelos artesãos, que as transformam em roupas, acessórios, joias e sapatos. “Cada bananeira dá frutos uma única vez e, diferentemente de árvores lenhosas, não possui tronco propriamente dito, mas um pseudocaule formado por folhas enroladas umas sobre as outras”, explica Elena Jablonski, artesã de 57 anos que trabalha com o material há quase uma década.
Processo manual e desafios
A extração das fibras é totalmente manual, exigindo força, habilidade e paciência. Elena conta que, após a colheita, o cacho de bananas é descartado na lavoura, mas o caule, que vira lixo, representa uma “mina de ouro” para quem trabalha com fibras. Segundo ela, cada camada do pseudocaule tem uma especificidade: a externa é mais resistente, enquanto a interna é fina e delicada, ideal para acabamentos finos.
Após a separação, as fibras passam por lavagem e secagem natural, um processo que dura cerca de dois dias. “A questão é que atualmente só se aproveita cerca de 0,5% das fibras possíveis. Isso se deve à falta de interesse maior na transformação do material”, avalia Eliane Müller, diretora executiva da Associação dos Bananicultores de Corupá, que planeja projetos de produção em escala industrial em 2026.
Potencial econômico e ambiental da fibra de bananeira
Apesar do potencial, o uso do produto ainda é limitado, principalmente por fatores culturais e econômicos. Elena destaca que quem trabalha com as fibras geralmente é o pequeno agricultor ou familiares, que não têm acesso às oportunidades de mercado. “Quem tem contato com esse produto são pessoas sem estudo formal, muitas vezes esposas e donas de casa. Quando chega às universidades, vira pesquisa e fica ali, longe da economia de base”, critica Carmen Hreczuck, fundadora da marca de biojoias Nanica Chic.
Ela relata que, apesar de o trabalho ser manual e detalhado, a extração eficiente e em maior escala ainda enfrenta obstáculos. Segundo ela, a indústria prefere produtos mais rápidos e baratos, o que limita o desenvolvimento do segmento de fibras de bananeira.
Perspectivas de expansão e preservação
Eliane Müller afirma que há um grande potencial de expansão do uso das fibras, especialmente para gerar renda para as comunidades locais. “Se mais interesse fosse despertado, poderíamos aumentar a margem de lucro dos produtores e diminuir o desperdício”, diz. Ela estima que atualmente, apenas metade da fibra produzida é aproveitada e que há planos para capacitar mais mulheres na extração, além de buscar maior escala industrial.
O trabalho de Elena e de outras artesãs demonstra que, com incentivo e tecnologia, a fibra de bananeira pode se tornar uma fonte sustentável de renda, além de contribuir para a preservação do meio ambiente, ao valorizar o resíduo agrícola. A iniciativa reforça a importância de olhar com mais atenção para as possibilidades que a agricultura familiar oferece ao Brasil.
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