Em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia, a inteligência artificial (IA) surge como uma das inovações mais impactantes de nossas vidas. Em uma entrevista intriguante com a mídia do Vaticano, o renomado físico Mario Rasetti, professor emérito de Física Teórica do Politécnico de Turim, discute como a IA não só transforma a sociedade, mas também levanta questões éticas cruciais. Para Rasetti, essa revolução tecnológica, que ele descreve como uma “transição antropológica”, requer que os seres humanos reavaliem seu relacionamento com a realidade e com as novas máquinas que moldarão o futuro.
O crescimento exponencial da IA
Durante a entrevista, Rasetti enfatiza o ritmo acelerado em que a IA está se desenvolvendo, descrevendo-o como “duplamente exponencial”. Isso significa um crescimento em um patamar muito mais acelerado do que o observado durante a Revolução Industrial. Para ele, essa velocidade nos leva a cenários onde “nossos reflexos humanos não nos permitem ter controle sobre nada”. Essa falta de controle traz enormes riscos se a IA não for orientada de maneira ética e responsável.
O professor destaca que é vital que a IA deixe de ser apenas uma prática técnica e se torne um objeto de ciência que possa ser guiado conscientemente. “Precisamos de pessoas de boa vontade que se preocupem com o futuro da humanidade”, afirma. Segundo Rasetti, esse é um período decisivo onde devemos transformar o potencial da IA em uma força do bem, em vez de deixá-la à mercê de interesses egoístas e geopolíticos.
Sustentabilidade ambiental: um alerta necessário
Outro ponto crucial abordado por Rasetti é a questão da sustentabilidade ambiental, que está interligada ao crescimento da IA. Ele ressalta que o aumento no consumo de eletricidade e água para operar centros de dados de grandes empresas como Google e Microsoft pode causar danos ao meio ambiente. “Esses computadores consomem uma grande quantidade de água para resfriamento”, explica, alertando para o impacto ambiental que isso gera. A água utilizada, embora tratada, é devolvida ao meio ambiente em temperaturas mais altas, o que pode afetar ecossistemas locais.
Rasetti conclama à necessidade de agir rapidamente para mitigar esses impactos, afirmando que a sustentabilidade não deve ser um conceito secundário na corrida pelo avanço tecnológico. Em suas palavras, “este tema deve ser abordado com determinação e sem perder tempo”. O físico acredita que uma abordagem ética e responsável poderá garantir que a evolução da IA não venha à custa do nosso planeta.
A questão da verdade na era da IA
Um dos desafios mais significativos discutidos na entrevista é a capacidade da IA de discernir a verdade. Rasetti alerta que, atualmente, a IA tem dificuldade em reconhecer se um conteúdo é verdadeiro ou falso. Embora a tecnologia produza representações da realidade, ela não compreende nem interpreta essas informações. Ele compara a situação atual com o mito da caverna de Platão, onde as pessoas vêem apenas sombras da realidade.
O físico enfatiza que, apesar do avanço estimável da IA, a verdadeira compreensão e criatividade são atributos inalienáveis dos seres humanos. Ele destaca que, mesmo com toda a capacidade computacional das máquinas, elas não podem substituir a habilidade humana de interpretar experiências e fazer escolhas significativas. “Nós, seres humanos, somos muito mais poderosos do que as máquinas. Cada um de nós é”, conclui Rasetti.
O papel da ética não é apenas importante, mas vital em nossa era digital. À medida que a IA continua a se integrar em praticamente todos os aspectos de nossas vidas, é imprescindível que a sociedade examine não apenas os avanços, mas também os desafios que eles apresentam. A conversa de Mario Rasetti propõe uma importante reflexão sobre o futuro que queremos construir com essas tecnologias e a urgência de um compromisso ético consciente.

