Brasil, 28 de dezembro de 2025
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O renascimento da esquerda: o que fazer para ressurgir?

Em “Por que a esquerda morreu?”, recém-lançado pela Editora Civilização Brasileira, o sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal do ABC e autor de “O pobre de direita” e “A elite do atraso”, faz uma autópsia do campo progressista no Brasil. No subtítulo da obra, “o que devemos fazer para ressuscitá-la”, ele oferece sugestões para a reinvenção da esquerda, tendo em mente tanto as eleições de 2026 quanto o futuro próximo, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estiver fora das urnas.

A análise do atual cenário político

Em entrevista ao GLOBO, Souza avalia que um discurso voltado para justiça tributária e soberania nacional é uma possível fórmula para a reinvenção desse campo. “Escrevi em total desespero, ao ver a maioria humilhada da população ainda comprando a narrativa da extrema direita. O cenário após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é de terra arrasada”, explica.

O sociólogo argumenta que a esquerda precisa elaborar uma narrativa que dê protagonismo aos mais explorados, ao invés de se conformar com um papel subalterno. “A elite paulista, que realmente importa, enxerga o Estado como um negócio. O PT se conformou em ser o plano B dessa elite, dando o que chamar de ‘docinho’ aos pobres para garantir a ordem social mínima”, critica.

Os desafios da esquerda para 2026

Sobre as pesquisas que colocam Lula à frente nas eleições de 2026, Jessé observou que isso não apaga a fragilidade da esquerda atualmente. “A esquerda vai para 2026 sem direção. Não sabe quem é e não disputa as ideias. A luminosidade do Lula mascara a precariedade da esquerda”, comenta. Segundo ele, essa falta de clareza pode ser fatal em um momento político tão delicado.

A inclusão de figuras como Guilherme Boulos no governo é vista como uma tentativa de conectar a administração com o povo, mas Souza acredita que isso sozinho não resolverá o vazio na disputa por uma visão de identidade nacional. “A esquerda precisa contar uma história de país, igual a direita fez”, alerta.

Justiça tributária e soberania nacional como caminhos

O sociólogo reconhece que a justiça tributária pode ser uma ferramenta poderosa, desde que não se limite a uma abordagem meramente economicista. “O eleitor de baixa renda quer se sentir protagonista. A soberania nacional oferece uma oportunidade de reviver ideias que foram mal elaboradas por aqueles que têm o controle da narrativa. A exploração e a humilhação do trabalho têm que ser tratadas nas disputas políticas”, ressalta.

Além disso, Souza enfatiza que o tema da segurança pública é um trunfo da direita e um desafio enorme para a esquerda. A proposta ideal seria equilibrar a defesa do indivíduo com a denúncia do racismo e desigualdade social. “É preciso defender um endurecimento seletivo na punição de crimes, sem olvidar a importância de aumentar a confiança nas instituições policiais e judiciárias”, reafirma.

Conquistando o eleitor de direita

No que diz respeito ao eleitor de direita, Jessé Souza acredita que a esquerda pode expandir sua votação em 2026, desde que comece a “denunciar e nomear o inimigo real” que oprime essas populações. “Se não o fizer, a esquerda continuará a se resignar a representações partitárias cada vez mais específicas”, adverte.

Souza enfatiza a importância de ter uma narrativa clara que una os interesses dos pobres, incluindo aqueles que se identificam com ideais de direita. “Tem que ser uma mudança que conscientize os pobres de suas realidades. Oportunidades perdidas podem resultar em fracassos ainda maiores nas urnas”, explica.

A urgência da Amazônia e a questão ambiental

Por último, o sociólogo ressalta que a reinvenção da esquerda deve incluir a questão ambiental e o reconhecimento dos amazônidas como agentes críticos na luta pela preservação da floresta. “Eles são uma voz essencial, e a esquerda precisa ter um diálogo verdadeiro com essas comunidades, não apenas criticar os agentes da destruição. É preciso engajar e investir tempo e estratégia para abrir esse canal de comunicação”, conclui.

Com o livro já nas prateleiras e a reflexão sobre o futuro da esquerda em andamento, a necessidade de um novo olhar sobre as realidades sociais e políticas do Brasil parece mais urgente do que nunca.

Para mais detalhes sobre a obra e as ideias de Jessé Souza, acesse a entrevista completa no GLOBO aqui.

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