Nas ruas do Brasil, a corrida vai além da prática esportiva; transformou-se em um verdadeiro fenômeno social. Ao avistar um fotógrafo durante uma prova, muitos corredores aceleram o passo, sabendo que o clique será compartilhado nas redes sociais. O boom da corrida de rua tem atraído não apenas uma legião de atletas, mas também um número crescente de profissionais da fotografia, todos prontos para capturar esses momentos únicos.
A valorização das imagens em eventos de corrida
As grandes corridas de rua do país já contam com fotógrafos posicionados em pontos estratégicos ao longo dos percursos, prontos para registrar a energia e a emoção dos participantes. Essas imagens, que podem ir para o feed do Instagram ou para um álbum pessoal, são frequentemente comercializadas em plataformas específicas de fotos. Em eventos como o Bota Pra Correr, organizado pela Olympikus, o acesso às imagens é até gratuito, com o objetivo de incentivar o compartilhamento nas redes sociais.
De acordo com André Chaco, cofundador e CEO da Fotop, uma plataforma líder em fotos para eventos, há um aumento de 30% na demanda por compra de fotos em competições. Para a famosa Corrida de São Silvestre, que terá sua centésima edição este ano, a Fotop contará com 350 fotógrafos cobrindo todo o percurso de 15 km, um verdadeiro reflexo do interesse crescente.
Impacto social e cultura de compartilhamento
No Brasil, o ato de correr se tornou uma forma de expressão nas redes sociais. Gisele Milanezi, uma maratonista de 44 anos, exemplifica bem esse novo comportamento. Ela compartilha frequentemente suas experiências de corrida em seu Instagram, onde qualquer treino pode resultar em dezenas de fotos que fazem parte de uma rotina que cerca de três dias por semana. “Compro fotos de todos os treinos, pelo menos 20 por vez”, revela Gisele, que também construiu uma rede de amizade com seus fotógrafos. “Eles são um ponto de apoio importante, especialmente para nós, mulheres que treinam sozinhas”, explica.
A presença constante de fotógrafos nas trilhas de corrida é vista como uma forma de segurança, além de fomentar uma comunidade de apoio entre corredores. Gisele não apenas se diverte postando, como também incentiva amigos a se manterem ativos, afirmando que “a corrida é um momento de felicidade”, o que a torna uma figura popular entre os fotógrafos que buscam cliques vibrantes.
A vida e os investimentos dos corredores
Outro corredor que se destaca nesse contexto é Allan Cesar, um bancário de 40 anos que participa ativamente da cultura de postagem. “Eu me considero um viciado em postagens”, diz ele, acrescentando que adora a forma como as fotos capturam a variedade dos treinos diários, mesmo em locais aparentemente comuns. Mesmo que ele repita os trajetos, cada corrida traz uma nova iluminação e uma nova experiência visual. O estado de espírito durante os treinos também influencia essa constante busca por cliques: “Quando acordo e vejo fotógrafos na área, isso aumenta minha motivação”, afirma.
Allan investe em médias de três fotos por treino, acumulando gastos que podem chegar a R$70 em um único dia. Ele também organiza seus treinos para otimizar a qualidade das imagens, raramente treinando à noite. Para ele, a corrida não é apenas uma forma de se manter saudável, mas também uma maneira de se conectar socialmente.
O papel dos fotógrafos nas corridas
Harysson Ferreira, um fotógrafo e engenheiro que trabalha com registro de corridas, vê sua função como algo mais profundo do que a venda de imagens. “Ajudamos a documentar a evolução das pessoas através da corrida, o que também serve de incentivo para elas”, explica. A amizade que constrói com corredores como Gisele e Allan é uma parte fundamental do seu trabalho. Ele observa que a valorização da saúde e o desejo de envelhecer com qualidade de vida têm levado mais pessoas a buscarem imagens que representam seus esforços e conquistas.
“As fotos que conseguem capturar o momento em que os corredores parecem voar, com os pés fora do chão, são frequentemente as mais desejadas”, revela. Essa troca não se resume apenas a cliques, mas à criação de uma comunidade solidária que compartilha desejos e vitórias.
Essa cultura de postagens e o compartilhamento contínuo de experiências em redes sociais humanizam a prática esportiva, transformando cada corrida em uma celebração coletiva de saúde e superação. Afinal, como diz Gisele, “corro para ser feliz e não para pagar boletos”.
Dessa forma, é evidente que a corrida e a socialização se entrelaçaram, e as imagens se tornaram um reflexo não apenas de conquistas atléticas, mas de um estilo de vida que valoriza saúde, comunhão e alegria.


