O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso nesta sexta-feira (26) no Aeroporto de Assunção, no Paraguai, ao tentar deixar o país rumo a El Salvador. A prisão ocorreu após Vasques romper sua tornozeleira eletrônica e tentar embarcar usando um passaporte que não condizia com sua identificação. Há apenas dez dias, ele havia sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a uma pena de 24 anos e seis meses de prisão por sua participação na tentativa de golpe que foi investigada após as eleições de 2022.
Um pouco sobre a trajetória de Silvinei Vasques
Nascido em Ivaiporã, no Paraná, em 1975, Silvinei Vasques fez de sua vida profissional um caminho voltado à segurança pública. Ingressou na PRF em 1995, ainda jovem, e ao longo de quase três décadas construiu uma carreira marcada por diversos cargos operacionais, administrativos e de comando, principalmente nos estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro.
Descrito por seus colegas como um profissional ambicioso e centralizador, Vasques investiu de forma consistente em sua formação acadêmica. Ele se graduou em ciências econômicas, direito e administração, acumulando especializações em segurança pública e gestão organizacional. Seu currículo é considerado diferenciado dentro do meio policial, incluindo um mestrado em administração fora do Brasil e um doutorado em direito na Argentina. Além disso, participou de cursos de grandes operações policiais, até mesmo nos Estados Unidos, o que solidificou sua imagem como um gestor competente.
Ascensão política e controvérsias na PRF
Antes de sua nomeação em Brasília, Vasques já havia transicionado entre a polícia e a política. Foi secretário municipal de segurança pública em São José (SC) e teve envolvimento em uma estatal fluminense após ser indicado pelo então governador Wilson Witzel. Após assumir a direção da PRF em 2021, sua identificação com o campo político da direita e com o bolsonarismo ficou evidente, principalmente com a adoção de um discurso político explícito e a defesa das pautas do governo. Isso transformou seu cargo técnico em uma plataforma de visibilidade nacional.
Internamente, sua gestão na PRF foi marcada por uma centralização de decisões e estreito relacionamento com aliados do então presidente, o que reforçou sua imagem como homem de confiança do governo. No entanto, esse aumento de visibilidade trouxe custos, e Vasques acabou sendo investigado pela Polícia Federal durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022. As investigações levantaram suspeitas de que ele teria usado a estrutura da PRF para fins politicamente orientados, especialmente em fiscalização nas rodovias do Nordeste, onde Luiz Inácio Lula da Silva tinha uma vantagem eleitoral.
Condenação e a tentativa de fuga
Com a derrota de Jair Bolsonaro, Vasques perdeu o seu cargo e sua situação jurídica se deteriorou. Em 2023, foi detido preventivamente e passou cerca de um ano na prisão. No entanto, mesmo em liberdade, ele tentou se reposicionar em Santa Catarina, onde ainda contava com redes políticas e pessoais que havia construído ao longo de sua carreira. Embora tenha considerado se candidatar à prefeitura de São José, a impressão negativa devido às suas dificuldades legais e à sua imagem ‘tóxica’ no contexto político levou-o a apoiar o prefeito Orvino Coelho (PSD), com quem foi nomeado secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação.
Contudo, em 16 de dezembro de 2025, após sua condenação, Vasques pediu exoneração do cargo. Durante seu tempo em Santa Catarina, ele acumulou um salário de secretário de aproximadamente R$ 18,4 mil brutos com a aposentadoria da PRF, totalizando mais de R$ 37 mil mensais. Informações de aliados indicavam que Vasques se via como uma potencial vítima de perseguição política e que alimentava esperanças de reversão de suas condenações judiciais, mas sua fuga para El Salvador indica que a situação estava se tornando insustentável.
A prisão de Silvinei Vasques levanta novas questões sobre as suas práticas e o papel da PRF em tempos de polarização política no Brasil, além de evidenciar os riscos associados ao entrelaçamento entre forças de segurança e interesses políticos.



