Na madrugada desta sexta-feira, 26 de dezembro, a Bahia perdeu uma de suas maiores referências espirituais: Mãe Carmem, a ialorixá do Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, popularmente conhecido como Terreiro do Gantois. A líder religiosa, que estava internada há duas semanas no Hospital Português, em Salvador, faleceu em decorrência de complicações de saúde. Ela completaria 97 anos nesta segunda-feira, 29 de dezembro. Mãe Carmem era filha mais nova de Mãe Menininha, uma figura icônica para o candomblé e a cultura afro-brasileira. Seu legado à frente do Terreiro do Gantois, onde atuou por mais de 20 anos, é imensurável.
A história do Terreiro do Gantois
O Terreiro do Gantois, fundado em 1849, é um dos mais tradicionais terreiros de candomblé do Brasil, localizado em Salvador, na Bahia. Desde sua fundação, desempenhou papel fundamental na preservação das tradições afro-brasileiras e na promoção da diversidade cultural. Ao longo dos anos, o Gantois tem sido um espaço de resistência, acolhimento e espiritualidade, atraindo seguidores de diversas partes do país e do mundo.
Mãe Carmem assumiu a liderança do terreiro em 2002, sucedendo Mãe Menininha, e trouxe sua própria visão e força para a tradição. Desde sua iniciação no candomblé, aos 7 anos, Mãe Carmem dedicou sua vida à fé e ao suporte espiritual da comunidade. Sua influência foi sentida não apenas nos rituais, mas também em sua atuação social, sempre buscando promover a paz e a harmonia entre as pessoas.
O legado de Mãe Carmem
Além de ser uma líder espiritual, Mãe Carmem se destacou como uma mulher à frente do seu tempo. Ela desafiou estereótipos e preconceitos, representando a força da mulher negra na sociedade brasileira. Sua trajetória inspira muitas mulheres a se reconhecerem em suas raízes e a lutarem por seus direitos.
Como homenagem ao seu trabalho e ao legado que deixou, a música “A Força do Gantois”, escrita pelo sambista Nelson Rufino, eternizou a imagem de Mãe Carmem como um ícone do candomblé. Lançada em agosto de 2011, a canção celebra a força, a luta e as tradições que cercam esse importante espaço religioso e cultural.
A repercussão da morte de Mãe Carmem
A notícia do falecimento de Mãe Carmem causou grande comoção entre a comunidade do candomblé e admiradores de sua obra. Nas redes sociais, mensagens de condolências e homenagens rapidamente se espalharam, evidenciando o impacto positivo que a ialorixá teve na vida de muitos. Lideranças religiosas, artistas e cidadãos comuns têm compartilhado memórias e reconhecido o papel de Mãe Carmem na luta pela valorização da cultura afro-brasileira.
O luto pela perda de Mãe Carmem é uma oportunidade de reflexão sobre a importância dos terreiros, da espiritualidade e da preservação das tradições afro-brasileiras. A presença forte e carismática da ialorixá sempre será lembrada por suas contribuições ao candomblé e à sociedade.
Um novo capítulo no Terreiro do Gantois
A partir deste momento, o Terreiro do Gantois se vê diante de um desafio: como honrar a memória de Mãe Carmem e continuar seu legado. A comunidade deverá se unir para manter viva a tradição e os ensinamentos deixados pela ialorixá. A escolha de um novo líder será um momento significativo, não apenas para os seguidores do candomblé, mas também para todos que reverenciam a luta pela igualdade e a valorização das culturas afro-brasileiras.
A história de Mãe Carmem ecoará por gerações, lembrando a todos nós da importância da fé, da resistência e da celebração da cultura afro-brasileira que molda a identidade do Brasil.
À medida que o Brasil se despede de Mãe Carmem, que possamos celebrar sua vida e seu legado, especialmente no mês de dezembro, um tempo de reflexão e de renovação espiritual. Que sua luz continue a brilhar no coração daqueles que a conheceram e admiraram.


