A Igreja de Gaia, localizada em Spokane, Washington, tornou-se o primeiro templo a receber autorização para usar ayahuasca, uma substância psicodélica, em seus rituais de adoração. Essa decisão marca um ponto de virada importante no debate sobre a interseção entre religion e drogas psicodélicas nos Estados Unidos. A cada dia, mais pessoas se afastam das tradições religiosas convencionais e buscam novas formas de espiritualidade, fazendo com que igrejas que utilizam substâncias como ayahuasca se tornem cada vez mais comuns.
O impacto da autorização da Igreja de Gaia
Historicamente, o uso de psicodélicos tem sido proibido nos Estados Unidos, classificados como substâncias controladas de primeira classe. No entanto, organizações religiosas têm iniciado batalhas legais para garantir sua utilização em contextos sagrados. A Igreja de Gaia, através de uma petição ao Departamento de Controle de Drogas (DEA), conseguiu essa autorização sem precisar passar por litígios prolongados. Segundo Connor Mize, líder cerimonial da igreja: “Essa é uma prática puramente espiritual. Não é algo que se faz apenas por diversão.”
Crescimento das igrejas psicodélicas nos EUA
Estima-se que existem centenas de igrejas psicodélicas operando ilegalmente em todo o país. A recente vitória da Igreja de Gaia se junta a outras duas resoluções legais que reconheceram novos rituais com psicodélicos no último ano. Sean McAllister, advogado especializado em legislação sobre psicodélicos, afirmou que este é um sinal de uma nova era de reconhecimento que pode levar a uma maior aceitação.
A história das igrejas psicodélicas
O movimento para legalizar igrejas que utilizam psicodélicos começou no início da década de 2000, quando 30 galões de chá de ayahuasca foram apreendidos de um grupo religioso no Novo México. Desde então, o uso de ayahuasca em cerimônias religiosas ganhou força, com decisões legais favoráveis em Oregon e, mais recentemente, na Califórnia e Arizona. McAllister sugere que a mudança de postura do governo em relação à liberdade religiosa da utilização de plantas psicodélicas está se tornando mais comum.
Práticas religiosas e debates sobre legalidade
Com a mudança de atitude federal em relação aos psicodélicos, o número de igrejas está em ascensão. Jeffrey Breau, do Centro de Estudos das Religiões Mundiais de Harvard, estima que existam atualmente mais de 500 dessas organizações nos EUA. A maior parte delas foi estabelecida nos últimos cinco a sete anos, refletindo uma mudança na espiritualidade dos americanos — 40% dos adultos dizem ter se tornado mais espirituais, enquanto apenas 24% afirmam ter se tornado mais religiosos.
Entretanto, a operação de igrejas que utilizam psicodélicos vem com riscos. Existe uma constante preocupação em relação à possibilidade de ações legais, e casos como o de Bridger Jensen, fundador da Singularism, ilustram os desafios enfrentados por grupos que operam na interseção entre religião e uso de substâncias controladas. A Singularism, que utiliza psilocibina em seus rituais, chegou a ser alvo de uma ação policial, mas conseguiu reverter a situação via litígios com sucesso, criando um precedente para outras igrejas.
Desafios e consequências
Mize e outros líderes religiosos acreditam que, embora a liberação possa ser uma oportunidade para expansão das práticas de religião com psicodélicos, também é um campo minado. Jensen expressa preocupações de que outros grupos tentem replicar o processo da Singularism sem levar em consideração os riscos adequados, o que pode levar a consequências negativas e mais prisões.
O futuro das práticas religiosas envolvendo psicodélicos ainda é incerto, mas à medida que mais instituições, como a Igreja de Gaia, obtêm reconhecimento, a discussão sobre a legalidade e aceitação dessas práticas poderá se intensificar. Com a espiritualidade crescendo entre a população, será interessante observar como o sistema legal se adaptará a essa nova realidade espiritual.


