Brasil, 26 de dezembro de 2025
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Crescimento do uso de ibogaína entre conservadores nos EUA

Nos últimos cinquenta anos, os psicodélicos estiveram predominantemente vinculados à esquerda cultural: anti-guerra, anti-capitalistas e céticos em relação à igreja e ao estado. No entanto, um dos mais relevantes psicodélicos nos EUA, a ibogaína, está agora sendo endossado por cristãos evangélicos, governadores republicanos, veteranos militares e bilionários da tecnologia. Essa mudança de perspectiva marca um novo capítulo na história dos psicodélicos, que antes eram descartados como uma contracultura.

Ibogaína: uma nova esperança

A ibogaína, que é um potente psicodélico derivado da casca de uma raiz da África Central, é vista por muitos de seus novos defensores como uma “tecnologia divina”. Alguns desses grupos evitam o termo “psicodélico” devido ao seu peso negativo em certos círculos. Jamie Wheal, autor do livro “Recapture the Rapture”, descreve esse renascimento psicodélico como “capitalizado, conservador e cristão”. Ele observa que a escolha de colocar veteranos militares como rosto do movimento reformista de psicodélicos gerou uma enorme repercussão.

Após a rejeição da terapia assistida por MDMA para tratar PTSD pela FDA no ano passado, a ibogaína emergiu como foco central. O governador do Texas, Greg Abbott, aprovou um pacote histórico de 50 milhões de dólares para pesquisa sobre ibogaína, ressaltando a “grande promessa” do medicamento no tratamento de condições enfrentadas pelos veteranos, que formam a maior população de ex-militares no Texas.

Liberação de tratamentos

Discussões sobre reformas estão em andamento também em Ohio, enquanto Colorado já está avançando para sancionar tratamentos legais com ibogaína, onde os pacientes passam por intensas experiências que podem durar cerca de 12 horas. De acordo com Bryan Hubbard, CEO do grupo de advocacy Americans for Ibogaine, a ibogaína pode ter um impacto terapêutico revolucionário sobre veteranos que sofreram traumas visíveis e invisíveis da guerra.

Um estudo da Universidade de Stanford publicado no ano passado revelou que 30 veteranos das forças especiais dos EUA que passaram por tratamento com ibogaína no México apresentaram reduções significativas nos sintomas de TBI (lesão cerebral traumática), PTSD e depressão. Um mês após o tratamento, a maioria dos pacientes relatou uma melhora ainda maior, sem efeitos colaterais.

O paradoxo dos conservadores

Hubbard, que também é um cristão devoto, reflete sobre a ironia de conservadores como ele se tornarem protagonistas na defesa do acesso legal a terapias psicodélicas. Suas experiências com a ibogaína, que ele considera algumas das mais profundas de sua vida, contrastam com o estigma que ainda envolve substâncias psicotrópicas.

Embora o surgimento do apoio aos psicodélicos por figuras conservadoras esteja levando a um aumento no debate sobre a definição e utilização desses tratamentos, há uma crescente preocupação sobre a possível manipulação desse espaço. Jeremy Wheat, diretor da Global Ibogaine Therapy Alliance, menciona que houve uma “virada contra a contracultura”, especialmente após incidentes no Capitol em janeiro de 2021.

A ibogaína, que Hunter Biden usou em 2014 durante uma tentativa de tratamento para dependência, é uma “molécula rebelde para um momento rebelde”, segundo Wheat, que destaca sua origem como um tratamento acidental para a dependência de opióides na década de 1960.

Os riscos associados

No entanto, ao mesmo tempo que as clínicas que oferecem tratamentos legais estão crescendo para atender a demanda, a ibogaína enfrentou críticas por ser reduzida a mais um medicamento em um sistema de saúde que prioriza a transação em detrimento do real cuidado com os pacientes.

As experiências intensas proporcionadas pela ibogaína não são livres de risco. Em particular, ela pode ser contraindicada com uma série de outros medicamentos e tem potencial para levar a paradas cardíacas. Um estudo de 2021 já reportou 33 mortes relacionadas ao uso da ibogaína, embora instâncias reais possam ser muito superiores.

Hubbard enfatiza a importância de tratar a ibogaína como um medicamento sério e não como um recurso trivial. Ele rejeita o estereótipo de advogados psicodélicos que evocam imagens de Woodstock, argumentando que essa abordagem não é a mais eficaz para promover o potencial curativo das substâncias psicotrópicas.

Com um futuro ainda incerto e polarizado em torno do uso de ibogaína, o debate sobre sua regulamentação e utilização terapêutica promete continuar, envolvendo tanto apoiadores conservadores quanto progressistas em uma conversa que pode redefinir a forma como a sociedade enxerga e utiliza essas substâncias.

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