A tradição do Natal na Venezuela é marcada por rotinas de compras, jantares, trocas de presentes e celebrações familiares. No entanto, em 2025, essa festividade se entrelaça com a crescente desigualdade do país, refletindo uma sociedade em crise. Em Caracas, as comemorações natalinas ocultam preocupações profundas sobre as tensões geopolíticas que o país enfrenta, especialmente com o aumento da presença militar dos EUA nas proximidades de suas fronteiras. Este ano, os sentimentos de incerteza e temor permeiam as festividades e alteram o tradicional espírito natalino.
Tensões e a inquietação popular
As festas são ofuscadas por uma atmosfera de apreensão. O receio de conflitos armados entre os Estados Unidos e a Venezuela tem se intensificado, especialmente após a convocação do Conselho de Segurança da ONU em resposta a possíveis ataques norte-americanos e apreensões de petroleiros sancionados. Em meio à celebração natalina que começou em outubro, muitos venezuelanos compartilham suas ansiedades em conversas discretas, utilizando uma linguagem codificada para evitar represálias. Uma manicurista em Caracas expressou sua esperança em relação ao futuro, ressaltando como todos desejam mudanças políticas significativas.
A luta por sobrevivência em tempos difíceis
Além das incertezas políticas, o cotidiano dos venezuelanos é marcado pela preocupação com a economia. O aumento acelerado do dólar e as dificuldades financeiras são as principais preocupações. Luis Martínez, um advogado aposentado, revelou que teve que se distrair para suportar a situação: “Decidi esquecer o que está acontecendo para não me sentir mal”, disse ele ao se preparar para passar o réveillon com a família na Ilha de Margarita, economizando a cada passo. As notícias constantes sobre operações militares e movimentos de aviões americanos aumentam a ansiedade entre seus compatriotas, que vivem uma luta diária para se manter. Martins conseguiu garantir sua estadia vendendo alguns dólares economizados, uma alternativa que se tornou comum entre os venezuelanos.”
Desconexa da realidade
A jornalista Mariana, que optou por usar um pseudônimo por razões de segurança, compartilhou a pressão que sente neste Natal: “As pessoas estão angustiadas, principalmente pela economia. Mas todos querem que isso acabe, não se trata de ideologias”, afirmou. Para ela, a falta de trabalho em sua área, além das constantes perseguições a jornalistas, a levaram a desconectar-se das notícias com a intenção de proteger sua saúde mental. “Infelizmente, este será um dos Natais mais difíceis que lembro”, lamentou.
Pressão e alternativas econômicas
Com a situação política e econômica em colapso, Venezuelanos se adaptaram a novas realidades, como o uso de plataformas de financiamento, que ganharam popularidade em um cenário onde o crédito bancário escasso. A ferramenta Cashea, por exemplo, tornou-se um auxílio para aqueles que, como Martínez, buscam garantir suas compras de Natal mesmo em meio à crise. “Cashea salvou o Natal para muitos”, disse ele, referindo-se à opção de parcelar as compras em tempos de inflação vertiginosa.
Aeroportos e isolamento
Entretanto, as consequências da crise também são visíveis nos aeroportos do país, onde a frequência de voos internacionais caiu drasticamente. Diversas companhias aéreas, como Iberia e Air Europa, suspenderam voos programados, forçando os que tinham bilhetes a mudar suas rotas ou encontrar conexões complicadas. O isolamento se tornou uma norma, e muitos se sentem desconectados da realidade global, enfrentando um futuro incerto.
No entanto, figuras do governo, como o presidente Nicolás Maduro e sua esposa, continuaram a promover uma imagem de otimismo em meio a festividades, afirmando que a Venezuela desempenha um papel crucial na estabilidade global. Enquanto isso, a oposição política continua a lutar por mudança, deixando os cidadãos em um limbo de esperanças incertas.
A celebração do Natal na Venezuela de 2025 além de ser marcada por luzes e decorações, é, na verdade, uma reflexão sobre a luta por sobrevivência de um povo que anseia por mudanças em um cenário de insatisfação profunda e desafios persistentes. O que o novo ano trará, ainda é uma incógnita, mas a esperança de transformação continua viva no coração dos venezuelanos.

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